Eu sou daquele tipo de pessoa que, se encontro um amigo na rua e ele pergunta “tá tudo bem?”, e eu, mesmo com mil problemas, dores e dissabores, vou dizer “tô óótima, e você?”. Acho que na real muita gente é assim e, salvo raras exceções, é o cenário social default para interações.
Mas já que aqui somos amigas íntimas, preciso confessar: eu não andei bem… ok, na real ainda estou digerindo tudo, mas, ativando o modo diário pessoal, venho contar como andei passando. Saibam que muitos amigos e até familiares mal souberam pelo que passei, mas aqui finalmente compartilho tudo (demorei pra postar pq justamente é um assunto sensível que me engatilha até pra escrever).
Eu tenho o Fashionismo desde 2008, 26 aninhos, fina flor da juventude. Graças a Deus, acho que cultivei leitoras que me acompanham há pelo menos mais de uma década, então vocês já me viram plena, serena, casando, engravidando, tendo filho… E seguindo o círculo da vida, se a gente fala de amor, futilidades e outras coisas mais, faz parte dessa engrenagem também falar de problemas, mais ou menos banais, de coisas que fazem parte da nossa vida, nos pregam peça, assustam e até nos transformam a força.
Em julho do ano passado, escrevi esse post “O ano em que decidi cuidar de mim” e, mesmo cuidando, passei por várias coisas. E ainda bem que cuidei, pq imagina se não tivesse. Então esse post, em formato de diário extremamente pessoal, serve pra compartilhar o que passei, desabafar, jogar luz e até tranquilizar aos que se preocuparam com meu sumiço e internação no fim do ano. São duas questões diferentes, que vieram ao mesmo tempo, e que são sobre saúde.
O ano em que decidi cuidar de mim
Eu fiz 40 anos e parece que uma chave virou na minha mente. Não foi uma ignição moderna, daquela que se aperta um botão e vai, mas de um carro dos anos 80 que às vezes demora pra virar, engata, mas v…
E de repente nada é como antes
Contei nesse post que fazer 40 anos foi um gatilho pra eu focar mais em mim, na minha saúde e bem-estar. E foi justamente no ano passado que tive uma urgência maior de jogar atenção à minha saúde. Sempre fui uma menina extremamente saudável, cuidadosa e interessada. Sempre tive exames ótimos e investi em bons médicos, mos como disse no post, oscilava no cuidado diário, na frequência da academia, no ponteiro da balança, na alimentação regrada.
Daí quando chega os 40, às vezes o corpo cobra e o meu cobrou de algumas formas. No início do ano, período inegociável quando faço todo meu checkup, meu médico disse que meu colesterol estava um pouco alterado, daí como tenho histórico familiar que potencializa essa questão, me preocupei. Mas ok, segundo ele, apenas cuidado com alimentação e muito exercício físico.
Aí como contei no post, pensei no meu físico, alimentação, proteína contada, musculação sagrada e assim meu corpo foi respondendo bem e a rotina - algo que prezo muito - se tornou hábito.
Mas foi exatamente um mês depois desse post, no início de agosto, que levei um susto. Estava sábado à noite - depois de um final de semana delícia no Hotel Santa Tereza - em casa relaxando e esperando Rodrigo e Duda que tinham ido na padaria. Ao chegarem, levanto correndo para recebê-los e aí veio uma tontura extrema, fraqueza, dor de cabeça, vi tudo preto e achei que estava tendo um avc, um infarto. Achei que estava morrendo.
Disclaimer: eu sou MEGA hipocondríaca, não é pouco não, é muito. É algo que carrego desde meus 20 e poucos anos. Lembro que foi no semestre que estava me formando, muita pressão, ansiosa e comecei a ter mil gatilhos, achava que ia morrer do nada. Mas essa hipocondria era bem infrequente e com gatilhos eventuais, como quando eu perdi meu pai, em períodos de stress ou ansiedade que apareciam quase que raramente. Em 2017, lembro que tive uma crise de ansiedade de achar que estava infartando e fui parar na emergência, foi nesse período que descobri o mindfulness, método que sempre me ajudou a lidar plenamente com o momento presente e administrar esses pensamentos perturbadores de hipocondria e como eles são fluídos, vindo, mas indo.
Corta pra maternidade. Ninguém me contou, mas virar mãe potencializa a hipocondria x MIL! O que era, sei lá, 2 vezes ao ano, agora é dia sim e outro também. Medo de morrer, de deixar a filha desamparada e por aí vai. Inclusive, essa é pauta para um post exclusivo, pois conversando com amigas, descobri que isso não é apenas comum, mas, logicamente e por razões óbvias, mais comum ainda com mulheres +40 e com filho pequeno.
Saúde e Hipocondria
De volta ao fatídico sábado de agosto: essa tontura me assustou, mas por um lado pensei “ah, sou hipocondríaca, são vozes da minha cabeça”, mas a sensação estranha continuou. Daí não melhorei e fui pra emergência e após exames, eletro, tomografia e nada detectado: “Relaxa, Thereza, pode ser cansaço, desidratação, ansiedade”.
E assim achei que passaria. Mas no dia seguinte a tal tontura continuou, no outro também e o que era algo físico real, foi potencializado pela tal ansiedade e com o agravante de uma incapacidade de fazer coisas corriqueiras, como cuidar da filha ou escrever um post como esse (escrevi tanto post mal editado nesse período, prometo recompensar).
Tudo gira(va), silenciosamente, sutilmente, mas constantemente.
Daí começou meu périplo por médicos: de início achei que era algo ortopédico, tenho o famoso “pescoço de tenso” e pensei numa hérnia ou algo irradiando pela cabeça, não era. Depois foquei em otorrino, na expectativa da tontura ter relação com labirintite e, após consultas e exames (fiz até o temido Vecto), provavelmente nada relacionado. Essa tontura mexe muito com meu olho, daí fui ao oftalmologista, nada de alterado, >apenas< um astigmatismo 1.75 que ele falou que a tontura melhoraria com os óculos, não melhorou, mas lindos óculos que agora tenho rs. Fui num primeiro neurologista que descartou algo grave e falou apenas “vai passar”. Fui num psiquiatra, pq pensei, meu Deus, não estou nas minhas faculdades mentais normais, logo foi sugerido um remédio controlado para ansiedade, algo que nunca tomei, mas resisti, pois sentia que a tal tontura não era sobre isso. Eu busquei ajuda até na astrologia, JURO, pq achei que era coisa de mercúrio retrógrado.
Paralelamente, minha endocrinologista, que considero minha médica “clínica geral” e tem acompanhado meus exames de rotinas, pontuou algo como enxaqueca vestibular e desidratação, uma questão multifatorial que, acrescido da ansiedade e cansaço, degringolou tudo.
Os parágrafo acima são um breve resumo, mas foram agosto e setembro inteiros de exames (os de sangue e até colesterol tudo bem), inúmeros médicos, incertezas e a ansiedade pulsando como nunca. Neguei trabalhos, mal dei atenção pra minha filha, só pensava nisso e falava disso e, que sorte, vi no meu marido a pessoa mais generosa, paciente e atenciosa do mundo pra acolher todos meus medos e dúvidas.
(In)conformada com a tontura
Em outubro comecei a melhorar, a tal tontura que me acompanhava dia sim e outro também, começou a diminuir, ela vinha, mas eu conseguia ignorá-la e focar nas coisas. Seria a vida agora assim? Eternamente tonta?
Chegou novembro e ela seguiu discreta, ficava dias sem sentir. Foi no período que passei mini férias em Nova York, eu quaaase desisti de viajar (não desisti pq as pax eram de milhas e não tinha como remarcar rs) e da apreensão dos últimos meses, consegui finalmente relaxar. Não posso dizer que não fiquei tonta lá, mas foi um ou outro episódio. Achei que a tendência era melhorar.
Mas chegou dezembro e a tontura voltou com força.
Eu que estava há 1 mês sem procurar diagnóstico, voltei muito ansiosa, mas muito decidida em ter uma RESPOSTA. Eu precisava saber o que tinha, podia ser o pior, mas queria uma resposta.
Foi aí que veio uma luz, consegui uma consulta com o melhor neurologista do Rio de Janeiro, o Dr. Gabriel de Freitas. Já tinha tentado antes, era concorrido, teria que esperar meses, mas um belo dia fui encaixada numa desistência, ele me atendeu, me ouviu, confortou, descartou coisas graves (isso pq eu nem contei que lá no início do périplo tentei fazer uma ressonância magnética, mas por pânico dentro daquele túnel, desisti) e me pediu um exame chamado Tilt Teste.
Esse exame consiste basicamente em você ficar presa numa maca e, acompanhada de uma cardiologista, ela vai auferindo sua pressão e batimentos cardíacos em diversos “graus de inclinação” e momentos, e, no final, com um remédio na veia ~induz um desmaio pra ver até onde você vai… e eu quase fui! Quase desmaiei, o puro caos, mas daí veio uma resposta: o possível diagnóstico de um incômodo que me acometia há quase 5 meses.
Síncope vasovagal
O exame deu positivo para a síndrome do vasovagal, basicamente sou pressão baixa, tão pressão baixa que às vezes posso desmaiar. No meu caso, acho que nunca cheguei às vias de fato do desmaio, nunca cheguei perto de cair, mas a tal tontura constante também é um sintoma comum pra essa síndrome, que são basicamente quedas de pressão (no exame foi a 6x4) frequentes e que geram uma desautonomia, o corpo meio que pifa, mas “passa bem”. E ainda tem alguns gatilhos - que estou descobrindo - e que potencializam essa tontura, como muito calor e jejum prolongado e pouco consumo de água. Inclusive descobri que a cantora Giulia Be tem e descobriu depois de um desmaio.
No mesmo dia que saiu o resultado, dia 17 de dezembro, 4 meses e 14 dias depois do primeiro sintoma, coincidentemente tinha uma consulta com meu outro médico maravilhoso, meu cardiologista Dr Flavio Cure Palheiro (que cuida da minha família há décadas), e junto com o Dr Gabriel, me acalmaram: é algo benigno, gerenciável, chato sim, mas algo que muitas pessoas tem, muitas mulheres tem, e mulheres depois dos 40 anos. A única coisa grave que pode acontecer é de uma possível queda do desmaio… bater com a cabeça.
Então que fazer? Estou desde então tomando um remédio todo dia pra equilibrar essa pressão baixa (eu jurava que eu seria pressão alta rs afinal, amo #sal) e eles foram uníssonos em dizer: THEREZA, TEM QUE BEBER NO MÍNIMO 3 OU 4 LITROS DE ÁGUA POR DIA. E outra, nesse caso não é nem estética, fitness ou o que for, É MUSCULAÇÃO PESADA E CONSTANTE POR RESTO DA SUA VIDA. Basicamente com o corpo hidratado os sintomas da tontura diminuem, já a musculação vira a maior aliada a longo prazo pra melhora da circulação sanguínea.
Agora vale dizer, meu nível de hipocondria e trauma não me permitiram AINDA entender e pesquisar mais dessa síncope, como acomete, os gatilhos e tudo mais, então estou falando tudo que ouvi dos médicos (ok, é suficiente) e ainda sinto tonturas esporádicas. Depois de começar a tomar o remédio e perceber que ele não funcionaria por si só, passei só agora a de fato ingerir 3 ou 4 litros de água (ok, 3 no limite) e aí sim percebi uma melhora razoável. Inclusive esse tweet meu aqui falando sobre beber água e rotina (a que . chegamos rs) foi fundamental nessa escalada rsrs.
Agora quando eu digo “entender essa síncope”, talvez seja me conformar que vou viver eventualmente com essa tontura na minha vida. Veja bem, existem problemas muito mais graves nessa vida, mas no meu caso, a incerteza de 4 meses sem diagnóstico (eu pensava que tinha coisas absurdas) me deixou muito calejada e traumatizada, sabe? Sem contar o fato de ser uma síndrome que nunca ouvi falar e a tal da hipocondria ser engatilhada quase que diariamente com o primeiro sinal de tontura, daí nada disso me permite pesquisar sobre ou até reestabelecer uma rotina concreta, que foi abalada nos últimos meses.
De todo modo, ainda vou voltar a falar sobre o assunto, mas já até conversei com algumas seguidoras que tem a SV - descobri que era mais comum que se imaginava, o que prova que a gente não sabe de nada da vida né ;/ - e uma falou algo que me marcou “você não morre disso, morre com isso e acaba descobrindo seus gatilhos pra evitar”.
Do alívio a outro susto
Agora vamos pra segunda parte, a que compartilhei da minha internação e que “tecnicamente” não tem nada a ver com a síncope vasovagal.
No dia seguinte dessa descoberta, eu estava MUITO FELIZ E POSITIVAMENTE ANSIOSA para começar a tomar o remédio e resolver todos os problemas de meses, mas as coisas não saem como planejado.
Eis que acordo com uma dor de dente lancinante. Pensei, ai foi a pipoca que comi com a Duda, vou tomar uma advil que a dor passa. Dia seguinte não passou e piorou, eis que munida do meu senso catastrófico de hipocondríaca, corri no meu dentista. Ele não viu nada demais, mas pediu um exame panorâmico para quando pudesse. Sexta a dor não passava por nada, sábado também, bateu o desespero, final de semana, quase véspera de natal, algo está estranho no meu corpo, estou fraca (e tonta kkkry).
Eis que domingo acordo com uma dor absurda e um pequeno inchaço. Ao longo do dia o inchaço no rosto vira algo enorme, uma caxumba, uma bola de sinuca pendurada no meu rosto. Eu, que tinha uma nova consulta no dia seguinte, não aguentei e fui correndo pra emergência do hospital. E pela primeira vez ouvi, “vamos precisar te internar”.
Eu basicamente tive uma fratura na raiz de um dente. E dessa fratura surgiu um edema, um abscesso, uma infecção bacteriana que gerou esse inchaço que, sei lá, por um dia poderia virar algo maior como uma sepse. E a internação serviu pra administrar antibiótico na veia e também, caso não desinchasse, fazer uma punção no local.
A não ser pra fazer minha cesárea, eu nunca tinha me internado na vida, mas foram pouco mais de 48 horas de muita apreensão e com um Natal no meio. Pra completar, não tive uma experiência positiva (pra não dizer traumática) com um dos médicos do excelente hospital onde me internei, mas, no meio do caminho conhecemos pessoas incríveis e acolhedoras.
Foi assim com o Dr Rodrigo Alvitos, bucomaxilo e anjo que conheci na véspera de Natal quando foi ao hospital me acompanhar, tirar minhas dúvidas e me tranquilizar. Graças a Deus, em 2 dias os indicadores de infecção estavam já normais, o inchaço havia diminuído consideravelmente, então tive alta em pleno 25 de dezembro!
E foi aí que descobri que essas evoluções de dente são mais comuns do que se imagina, podendo ter complicações de infecção no coração e até no cérebro. O motivo da minha? Muito provavelmente um bruxismo agora identificado que causou essa fratura, segundo minha nova - e maravilhosa dentista, Dra Elina Rocha, a infecção veio por conta da minha imunidade estar baixa… provavelmente por todo esse stress que passei nos últimos meses.
Resumo da ópera, mesmo no ano que a gente decide cuidar da gente, coisas difíceis acontecem. Nunca, nunca negligencie qualquer mínimo sinal ou coisa de diferente no seu corpo, nem tudo são vozes da nossa cabeça *hipocondríaca* e merecemos toda e qualquer atenção e cuidado.
Tudo isso que passei, mudou minha percepção da vida, dos meus planos e prioridades. Tenho andado reflexiva, introspectiva, mas ainda com anseio em deixar tudo isso pra trás. Me orgulho da minha resiliência em buscar entender o que tenho, mas ainda tentando não apenas viver com uma nova realidade, mas viver conscientemente bem, plenamente e com esse ideal de viver o agora, o momento presente que é o que tem pra hoje.
O que tem pra hoje? Estou BEM melhor e a meta é seguir vigilante, vivendo de maneira mais intencional e menos no automático, aproveitando mais a vida, os pequenos momentos, as ilhas de paz e tranquilidade em meio ao caos. Assim sigo me reencontrando, um dia de cada vez, administrando traumas antigos, memórias que quero superar, desafios que vou precisar enfrentar, mas principalmente, vivendo de forma plena e serena.
Beijos e obrigada sempre,
Thereza
Oi Thereza! Aqui uma leitora de tempos atrás, e também admiradora dos seus conteúdos. Só para compartilhar que tenho diagnostico de síncope vasovagal há 20 anos (desde dos 17 anos), e fica tudo bem! Tenho períodos com e sem sintomas. Ultimamente tenho tido tonteira quando levanto de uma vez (da cadeira, cama, etc), e está sendo desafiador na fase da maternidade que estou (levanto durante a noite para acudir criança e preciso esperar uns 10 segundos para a tonteira passar). Já me acostumei com a vigilância constante sobre possíveis quedas, o que, graças, nunca aconteceu. Tenho certeza que com os seus cuidados, você não terá nada mais! Beijos!!
Oi, The!
Você sabe que de 2017 pra cá, minha vida mudou um tantão... O avc causou vários estragos quase invisíveis, e isso me fez ser muito cautelosa e me olhar com muito cuidado!!
Desejo uma jornada leve, que você se cuide bastante e que não se esqueça da leveza... Pq sem ela, fica tudo tão mais pesado...
um beijão!!