Maternidade não é "modo de dizer"
Minha cabeça nunca mais esteve livre para pensar só em mim...
Preciso fazer um mea culpa às mães que foram mães antes de mim - e de quebra buscar me acolher nesse meio do caminho: eu achava que certos aspectos da maternidade eram “modo de dizer”.
“Você nunca mais vai dormir direito”
MODO DE DIZER
“Você não vai mais conseguir tomar banho com calma”
MODO DE DIZER
“Vai ter vezes que você vai levar a criança na escola de pijama e despenteada”
MODO DE DIZER
“Você fica prestes a explodir de amor a cada novo marco e aprendizado do seu filho”
MODO DE DIZER *mas não literalmente falando rs*
“Você vai ter que comer chocolate escondido pra criança não ver e pedir um pedaço”
MODO DE DIZER
“Você não descansa mais”
“Você esquece de você”
“Você se torna invisível”…
Eu achava que tudo era modo de dizer. Não menosprezando o sentimento ou luta materna, mas totalmente num misto de ignorância com inocência, não sabia o quão esmagador, sufocante e exaustivo era ser mãe… até ser!
E não ser de uma hora pra outra, mas demorou uns 2 anos pra eu sentir - e sofrer - com esse peso. Mas ainda assim vale a pena.
A parte mais dura da maternidade tem sido agora: o tal do TERRIBLE TWO, não é modo de dizer que a criança fica terrível rs! A própria Tazmania, caótica e com energia de milhões. E a mãe com a força e carisma de centavos.
E de quebra é quando outra fase acontece: quando a gente tem que educar de fato! Explicar, ensinar e educar mil vezes, mostrar certo e errado sem colocar mini traumas na cabeça da miniquerida.
Ah, ainda tem a fase do porque! Pq isso, pq aquilo… ME DEUS, confesso que até hoje não decorei as diferenças do por que, porque, porquê, POR QUE?? E aí que de repente já me vejo ensinando um ser humaninho a existir cheia de personalidade.
“Minha cabeça nunca está livre para pensar só em mim”
Essa frase foi tirada de uma conversa recente da Heloísa Périssé com a Marie Claire e soou como um grande gatilho e um enorme afago para mim.
A maternidade é bizarra, é todo dia um “tapa com luva de pelica”! E nesse caso nem é só modo de dizer, mas é até literalmente falando, pq outro dia a Maria Eduarda me deu um tabefe certeiro no rosto que eu só sabia chorar (e ela rir), afinal, eu nunca tinha levado um e levei olha de quem. O #terribletwo não é modo-de-dizer, é terrível!
Mas voltando à cabeca livre para pensar em mim (viu como a minha não estava nem por um parágrafo sequer), com 2 anos e 7 meses de maternidade e com certo distanciamento da ruptura aka parto, percebo cada vez mais que não existe mais o indivíduo Thereza, mas sim a mãe-thereza.
Do alto do meu privilégio, apesar de uma rede de apoio diminuta, tenho meus momentos de individualidade, uma tarde fazendo massagem, mas aí eu volto a dizer: não é modo de dizer que você exibe o celular com fotos aleatórias de uma criança, tal qual um troféu, pra qualquer pessoa aleatória.
Também reconheço que o sono dela tem sido melhor e, ao invés de acordar 5 vezes na madrugada (não é modo de dizer!), ela tem acordado duas vezes. Ok que ainda estamos no modo cama compartilhada (não é modo de dizer, a criança dorme estatelada, em formato de estrela, entre os pais), mas o sono é melhor, looonge de se reparador, mas já há uma luz no fim do túnel.
Ah, sabe o que também não é modo de dizer? A criança dormindo a meio metro de você, na santa paz de Deus e você ao invés de relaxar, atualizar os seriados… você fica vendo fotos dela ~novinha (ou de hoje de manhã) e pensando de tudo de bom que passou e você nem sentiu (olha as dualidades da maternidade aí!).
Então quando a Heloísa diz que a cabeça de uma mãe nunca está livre pra pensar só nela, também não é força de expressão. É fato consumado e pra mim cada vez mais pertubador.
Passou o baby blues, passou o puerpério, a amamentação tá difícil de passar. Duda já tem suas mini individualidades, passa 5 horas na escolinha com maior alegria e o que eu busco agora? O encontro comigo mesma.
Treino minha mente para o reencontro da minha individualidade? Conforto minha cabeça pro entendimento que enquanto eu existir serei prioritariamente mãe da Maria?
Me acolho ou me desafio?
Qual é o modo de dizer pra mim mesma?
Não sei, estou cansada demais pra pensar.
Maternidade aos 40
Vamos para o bônus dessa newsletter adoravelmente melancólica: ser uma mãe na meia-idade é mais complicado ainda.
Antes de engravidar, mas já projetando ter filhos depois dos 35, uma ou outra pessoa falava que era mais complicado, porque demandava muita energia, esforço e que uma pessoa na beira dos 40 talvez não teria tanto.
Por muito tempo eu era contra esse pensamento, ok, ainda sou, mas ando tão cansada que nem sei mais o que pensar. Na realidade penso, e aí vem a culpa, como seria minha energia se tivesse a Maria Eduarda aos 30? Spoiler de um passado inexistente: estaria cansada também rs.
Eu zero me arrependo de ter engravidado aos 37 anos.
Mas a questão da maternidade aos 40 me pega de outra forma e não na energia de montar um castelo de areia ou um bloco de lego: se mulher fica invisível depois da maternidade, mãe depois dos 40 é a Gasparzinha em pessoa *ok, ok, modo de dizer*
Pra se identificar: “Amor Platônico” na Apple TV
Me peguei pensando nisso depois de assistir ao irresistível seriado “Amor Platônico” na Apple TV e já recomendo pra vocês, entretenimento gostoso e totalmente relatable.
“Amor Platônico é a história de antigos melhores amigos que estão se aproximando da meia-idade e se reconciliam após um longo período. À medida que a amizade deles se torna mais intensa, ela desestabiliza suas vidas de maneira hilária”.
A série é rápida (30min) e de humor com a Rose Byrne (sou muito fã dela) e Seth Rogan. Mostra essa energia meio frustrada e reflexiva de quem tem 40 poucos anos, mas se sente ainda jovem e ainda perdido. Até agora apenas 4eps foram ao ar (toda quarta sai novo), mas já me identifiquei, especialmente numa cena da Rose com uma amiga…
As duas na porta da escola,deixando seus filhos, que prontamente às ignoravam (isso é clichê, mas não é modo de dizer!! rsrs Maria Eduarda, 2, já nem olha pra trás na hora de entrar) e comentando o quanto elas passaram a ser invisíveis depois da maternidade e dos 40. E de como essa invisibilidade é não só sobre filhos, mas sobre homens também, basicamente como viver no limbo da sociedade, ainda tendo que CRIAR uma criança para essa mesma sociedade.
O seriado é excelente e mostra também a personagem da Rose Byrne reflexiva em como seria a vida dela tendo seguido a carreira de advogada ao invés de ter se tornado dona-de-casa cuidando dos 3 filhos. Não é sobre arrependimento ou amargura, é tudo muito bem inserido no contexto da comédia e fica tudo mais leve e muito interessante, vale o play!
Beijos e boa semana!
Thereza
The! Que delícia de texto! Foi como um abraço! Liz está prestes a fazer um ano, e é tão louco como não me reconheço mais! Tenho saudades de quem fui, mas nem por um segundo quero ser aquela novamente! Ser mãe é intenso demais!
Sinta o meu abraço e saiba que ler seu texto aqueceu meu coração nesta manhã!
Ai, The, que abraço essa newsletter. Sou mãe de uma bebê de 8 meses e pari aos 30 e tenho certeza que não estou menos cansada que você, mãe aos 40. Me sinto exaurida, sinto que não tenho energia para absolutamente nada e muitas vezes quase dormi enquanto fazia vozinha de bichinho nas brincadeiras. A maternidade é um clichê (e é clichê dizer isso) tão grande que cada uma dessas frases que você escreveu eu também duvidei e, óbvio, paguei a língua (mais um clichê). Acho que daqui uns 15 anos tudo melhora. Ou não. Mas é isso. Cada perrengue é muito bem compensado com um sorriso banguela (ou com novos dentes) dessas mini-humanas, então, como diria Fernando Pessoa, tudo a vale a pena.
Sinta-se abraçada e desculpa o textão. <3