Eu me pego muito pensando no envelhecer. Ok, me pego pensando muito nesse lance da meia idade, no tal “entardecer da vida”. Tenho buscado lidar com isso com franqueza e ternura. Em me aceitar e aceitar o fato que envelhecer faz parte da vida. Que envelhecer deveria ser luxo, mérito e não vir com esse ônus que até mesmo a palavra pesa. Inclusive busquei até um sinônimo para “envelhecer”, mas por qual motivo né? As pessoas precisam buscar antônimos para encarar da forma que julgam.
Ok, eu só tenho 41 anos, tenho vivido de fato uma revolução interna. Me sinto eventualmente plena e serena. O amor da minha filha preenche muitos dos vazios existenciais, ainda assim, vez ou outra, no vácuo dos sentimentos, reflito e questiono esse existir enquanto mulher mais velha numa sociedade que diariamente tenta nos invisibilizar.
Ser “millennial geriátrica” pesa muito enquanto as pessoas tem não só a urgência, mas a quase obrigação em serem mais jovens, mais belas e, acima de tudo, mais presentes e atuantes. Tenho me dado conta que não quero mais driblar o algoritmos, entrar em trends ou sair em feats. Quando a gente está há muito tempo numa função, já fez muito coisa, já ganhou muita coisa, já perdeu tantas outras coisas, chega uma hora que a gente quer apenas viver e fazer do nosso jeito, mesmo que isso implique em muitas coisas. Chega uma hora que a gente pesa perdas e ganhos, então a grande vitória é fazer do nosso jeito e seja o que Deus quiser.
Ando reflexiva, outro dia conversei com uma amiga influenciadora, que viveu as mesmas experiências e é da mesma geração que eu, e notamos que isso é mútuo e generalizado. Tal qual a moda em si, o viver de influência conteúdo tem vivido uma transformação, revolução e sorte de quem pode driblar o algoritmo e escolher. Feito eu escolhi focar minha energia nesse espaço aqui, por exemplo.
Um ícone nada acidental
Agora pra engrossar o coro e contextualizar o título, essa semana li uma matéria incrível da Rachel Tashjian (jornalista que também tem uma newsletter maravilhosa e me inspirou a ter minha!) pro The Washington Post sobre a influenciadora norte-americana, Lyn Slater, conhece?
Já falei dela lá no Fashionismo no post “Ser velho está na moda”. E você pode não estar ligando o nome à pessoa, mas a @Iconaccidental já passou pelo seu feed, pelo seu Pinterest e seu bob platinado é inspiração mundo afora. Ela foi basicamente uma das pioneiras no segmento, digamos, 3a idade da influência e agora ela lançou um livro chamado “HOW TO BE OLD” (à venda aqui na Amazon).
Em 2015 a Lyn abandonou sua carreira pra investir no mundo digital para focar no seu blog Accidental Icon, logo angariou mais de 700.000 seguidores, fez publis para as principais marcas, foi rosto de campanhas como Valentino e Kate Spade, era vista em front row dos principais desfiles de moda.
Eis que um belo dia, mais precisamente em 2019, ela olhou para seu closet abarrotado de roupas chiques & maravilhosas e se “desesperou”. Em entrevista ao TWP ela revelou que se sentiu perdida. Uma ansiedede com a visão de que aquelas roupas, em um momento cada vez mais breve, não serviriam mais pra ela, e não pela questão do tamanho, mas no aspecto da pessoa em que ela se tornou. Não pelo peso da idade, mas pela MATURIDADE QUE A IDADE TROUXE.
“Vejo as minhas roupas como materiais que utilizo para transmitir uma determinada identidade, um determinado papel. Minhas roupas comunicam meus desejos, meus pensamentos e minha alma. Ter o que visto coerente com quem sou me faz sentir uma pessoa completa. Quando comecei a deixar as marcas ditarem os itens que elas colocariam no meu corpo, não me sentia mais totalmente eu mesma.”- Lyn Slater
E por onde anda a Lyn? Bom, além do livro, ela contou que hoje se autodenomina uma “influenciadora reformada”. Há 2 anos optou por não fazer mais publicidade, diminuiu seu guarda-roupa, mudou-se de Manhattan para uma casa antiga no interior do estado, trocou suas roupas de grife por macacões vintage da Gap e pijamas de seda e passa os dias fazendo jardinagem, brincando seus dois netos e escrevendo.
O foco do livro “Como envelhecer” (ainda não tem tradução no Brasil) é sobre explorar o ato de se reinventar na velhice. Fala-se sobre criatividade, identidade e moda, é claro. É um livro de memórias e também um guia sobre como “liviling boldly” aka viver de forma exuberante e como encontrar seu estilo pessoal.
“No início, as roupas que eu usava — no meu blog e Instagram — eram muito autênticas para mim. Eu as possuía. Elas faziam parte do meu guarda-roupa. Eu as escolhi. Mas nunca tive uma conexão emocional com muitas das roupas que comecei a usar como influenciadora [paga].” - Lyn Slater
E o turning point da relação com a moda da Lyn veio justamente na pandemia, período de introspeção e questionamento sobre o vestir. Ela decidiu se mudar pro interior e, de 6 araras de roupas, ela ficou com apenas 2, as outras 4 foram para brechós ou doações.
E um ponto que me pegou muito nessa entrevista da Lyn foi sobre o medo de mudar que acomete muita gente (\o/): ela não tem. Ela cresceu acostumada a mudar, seja de escola, cidade, profissão ou estilo. E o livro fala muito disso e dessa liberdade em sempre se sentir apta a mudar.
“Uma forma de lidar com a mudança – e até mesmo manifestá-la – é através do vestuário. montei roupas inspiradas nas heroínas dos livros. Minha relação com roupas não tem nada a ver com moda. Na verdade, trata-se de usar as roupas mais como uma fantasia.” - Lyn Slater
E nesse espírito de traçar paralelo entre moda e mudança, ela compartilha uma frase do estilista Helmut Lang que me inspirou e espero que inspire vocês: “Não gosto de jogar coisas fora, mas também tenho a capacidade de encerrar capítulos da minha vida.”
Beijos e que a gente veja as mudanças com mais simplicidade.
(nada mudará aqui nessa Newsletter, ok?! Inclusive em abrir celebraremos 1 ano da Versão PREMIUM.)
Thereza
adorei essa edição!!! muita inspiração pras nossas pastinhas (a do pinterest e a da mente)
Sempre cirúrgica!