O que é vestir?
Por que a gente se veste?
De primeira eu consigo responder: pra gente não andar pelado por aí, mas, logicamente, vestir é uma expressão não só do que somos, mas do que estamos sentindo naquele dia. Não é clichê dizer que moda é arte, mas um arte ambulante e não aquela estática pendurada na parede do museu (ou da sua casa), vestir é uma oportunidade de criar arte todo dia, de expressar algo a cada look.
Ok, que bonito isso, Thereza, geralmente ando me vestindo com pressa, seja básica pra ir à academia ou preguiçosa pra buscar a fila na escola, sem contar a roupa-pra-ficar-em-casa pra escrever posts como esse, ainda assim, o vestir me traz esperança e uma possibilidade de colorir o dia, de performar, de provocar, de criar algo novo, de comunicar um sentimento.
Enquanto vestir for um ato de conformidade, seremos resistência…
OK, OK, POESIA À PARTE, li algo de uma jovem de 19 anos, nessa EXCELENTE matéria do NYT, que mexeu comigo:
“Vestir virou um ato de conformidade”
E não é que ela tem um ponto? Justamente ela, vivendo no seio da Gen-Z, no olho do furacão das -core e ~aesthetics, AINDA BEM, eles estão recalculando a rota da profusão de tendências que eles são impactados com uma frequência nunca antes vista.
Vestir virou um ato passivo. Você espera a próxima tendência, recebe, se submete à ela, tudo num looping repleto de consumismo e sem muita personalidade. Tem até uma moda ou outra que a gente rejeita, “é cafona!”, “não é pra mim”, mas no geral recebemos com passividade e, como bem a diva disse, CONFORMIDADE.
Temos o hábito de pensar em tendências como um meio de demonstrar que sabemos o que é legal e novo, ou como uma maneira de participar de um "momento" coletivo maior. A tal da tendência, que antes era um tempero divertido na salada do look, agora virou uma muleta que sustenta todo um vestir.
As tendências de hoje em dia não comunicam mais QUEM SOMOS, mas ONDE ESTAMOS. Se somos usuários de Tiktok ou Instagram, se seguimos a celebridade x ou y, se compramos na fast fashion mais próxima ou no brechó mais exclusivo.
Nossas etiquetas de estilo, que antes eram identificadas, como: patricinha, periguete, esportiva, descolada, só pra citar algumas, hoje comunica lugares, espaços, somos impactados por esses momentos virais, logo ficamos passivos à espera do próximo.
“A insegurança que os jovens sentem quando não têm o item "da moda" é amplificada quando há um novo item "da moda" a cada semana.” - The New York Times
Nós não nos inspiramos, não criamos, nem mesmo nos adaptamos, nós sucumbimos ao vestir vigente e isso é tudo menos formação do tal estilo pessoal, quédizê, a única coisa de pessoal tem aí é de “galera” e não de único e intransferível.
Escrevo esse texto meio de sopetão, talvez falando um monte de obviedades, mas ainda pensando que até uma jovem de 19 anos já se sente refém da moda e do conformismo do vestir de sob a tutela de tendências criadas por outros na intenção de alimentar um algoritmo alheio. Na matéria fala-se até da depressão dos jovens num mundo digital repleto de pressões para ser, estar e, claro, vestir compulsoriamente.
E eu, na altura dos meus 40 e poucos anos, me sinto também meio vítima dessa engrenagem, quem dirá a próxima geração (a da minha filha!!). Daí como vai viver a juventude num mundo superexposto a tendências mais fugazes e menos pessoais? Não sei, viajei!
Beijos,
Thereza