O BURNOUT DA BELEZA

Estamos nos encaminhando para um esgotamento estético?

Outro dia descobri que a grande tendência de beleza de 2024 era uma face mask labial, digo, um durex na boca pra você dormir com ela bem fechada e supostamente respirar melhor e ter uma estrutura facial mais jovem.

A tal “Mouth Tape” consiste em uma fita adesiva em formato de lábio e que promete um sono mais profundo e ~rejuvenescedor. Segundo a Skin Gym, marca que popularizou o produto entre a Gen-Z , “Ao promover a respiração nasal, esta ferramenta simples, porém eficaz, pode ajudar a reduzir o ronco, incentivar um sono reparador e combater a boca seca, além de promover benefícios estéticos como um maxilar mais definido”

Veja bem, essa técnica não é nova, mas se tornou popular ano passado e tem sido usada de forma indiscriminada e causando preocupação aos médicos. A mesma Skin Gym oferece alguns outros produtos de beleza, mas vendidos como “saúde”, tais como: cinta de queixo; touca gelada pra cuidar da enxaqueca; máscara de testa; fitas para puxar o rosto; aparelho de radiofrequência portátil; rolo de gelo; ventosas faciais; roller vibratório de quartzo rosa; adesivo pro queixo.

Eu entrei no Instagram dessa marca e achei algumas imagens pertubadoras. Estava tudo lá num adorável pink millennial e eu questionei duas coisas: estarei eu defasada usando apenas uns 2 cremes noturnos e olhe lá… ou o mundo tá perdido??

É fato, estamos vivendo um Burnout de beleza! Parece que atingimos o cume dos procedimentos estéticos, agora, vamos descer ou cair?

Estava lendo uma excelente série de matérias da Vogue Business chamada “O Futuro da aparência” que fala desde o uso de remédios pra emagrecer até a estética do dente, e um post me chamou a atenção, “afinal, estamos nos encaminhando para o burnout de beleza?”. Escrito pela Jessica Defino que, inclusive, tem uma excelente newsletter aqui no Substack, ele mostra o quanto os procedimentos estéticos estão cada vez mais fora dos padrões e também como se tornam cada vez mais status e reflexo do rico x pobre. A mercantilização dos procedimentos estéticos não é novidade, mas, com tudo de ruim que o mundo como um todo anda vivendo, a beleza e o bem-estar viraram formas de automedicação.

Esse parágrafo inicial me pegou muito e mostra de forma compactada, e muito assertiva, como as coisas estão saindo fora de controle:

“Pré-adolescentes têm rotinas antienvelhecimento. Avós estão fazendo 'transformações glamma'. Em algum lugar tem uma mulher de 38 anos está gastando US$ 140.000 em um lifting facial preventivo . Procedimentos não cirúrgicos — Botox, preenchimento — aumentaram quase 58% entre 2019 e 2023; a manutenção requer várias consultas por ano, quer os pacientes prefiram o excesso cartunesco do 'rosto Mar-a-Lago' ou o trabalho invisibilizado do visual 'indetectável' . Facetas estão em alta . Medicamentos para perda de peso estão em alta . Mechas 'Chestnut Teddy Bronde' estão em alta . Todo mundo no TikTok está tomando suplementos de colágeno , ou suplementos para crescimento capilar, ou suplementos para sono, ou suplementos para intestino. Alguns deles estão usando gloss dental — isso é "brilho labial para os dentes". A Doritos agora faz esmalte. O presidente Trump vende perfume . Parece que não há mais superfície para alisar (o Dr. Paul Jarrod Frank recentemente promoveu um tratamento para rugas nas costas ) e nenhuma inovação que já não exista (veja: sérum para buracos).” - Vogue Business

EU FIQUEI SOBRECARREGADA SÓ DE LER! E sabe aquela frase do saudoso poeta John Lennon, “ignorância é uma bênção”? Pois bem, me sinto até abençoada por não conhecer metade das menções supracitadas.

A GRANDE EXAUSTÃO

Não vamos nos preocupar com o futuro, dizem os menos ansiosos, mas o WGSN, que vive justamente de pensar-e-planejar o futuro, já avisou: VEM AÍ A GRANDE EXAUSTÃO.

Segundo a empresa expert em insights comportamentais, a Grande Exaustão, será - ou já é?? - uma névoa de fadiga que se condensará e descerá sobre todos nós em 2026.

Esse tal sentimento coletivo será alimentado por inúmeras e simultâneas crises globais: mudanças climáticas e desigualdade de renda; vida online e a crescente divisão política; problemas crônicos de saúde e custos exorbitantes de saúde; ansiedade em relação à inteligência artificial e insegurança no emprego; as mortes intermináveis ​​da guerra em curso; e a reversão dos direitos humanos básicos para mulheres, a comunidade LGBTQ+ e pessoas de cor.

Ou seja, meio que tudo que a gente está vivendo, agora provavelmente… vai afetar a forma como a gente consome beleza, skincare, maquiagem e tudo desse universo.

Isso pode vir no formato maquiagem, lembra a era do contorno excessivo e do esfumado perfeito? Pois bem, as Kardashians eram exemplo dessa maquiagem carregada, o tempo passou e logo depois veio a clean beauty e as pessoas passaram a se preocupar mais com skincare. Tudo seria ótimo, afinal, cuidar da pele deveria ser atemporal, mas daí meteram 10 passos e uma centena de firulas que nos perdemos novamente. Esses altos e baixos da beleza não são novidade, tem indicadores financeiros e de recessão que aquecem ou arrefecem esses métodos, mas agora a corda foi puxada a níveis inimagináveis.

A tal Grande Exaustão provavelmente agravará esses problemas causados ​​pelo estresse, como queda de cabelo, espinhas, pele opaca, envelhecimento precoce, daí vamos nos libertar do mito da beleza? Que nada, surgirão mais e mais oportunidades para comercializar 'soluções' superficiais. Mais problemas, mais soluções e assim sucessivamente, uns faturam e outros viram reféns manipulados.

BELEZA INDETECTÁVEL

Semana passada a aparição da Anne Hathaway no desfile de Ralph Lauren chamou a atenção de muitos por conta do seu rosto “mais jovial do que nunca”. Como é que pode? Anne Hathaway, 42, e a pele mais lisinha do que Andrea Sachs, 21, antes de conhecer a Miranda Priestly?

Primeiro ponto, eu me choco quando se chocam com a Anne, pq no final das contas ela tem APENAS 42 anos. Tipo as referências da “Sandy nem parece a idade que tem!!”, vamos com calma, hoje em dia não precisa ser uma milionária de Hollywood ou da música para parecer ~conservada, bons hábitos, sabão, protetor solar e água mineral não são tão falaciosos assim.

DITO ISSO, precisamos nos encher de recortes (gramaticais), o que acomete a Anne é a nova ideia dos procedimentos estéticos: serem feitos como alta costura, discretos e precisos, feitos aos poucos e de forma sutil. Sabe pq? O botox e o preenchimento estão cada vez mais pra todos e se, de um dia pro outro, aquela sua vizinha aparece com a cara sugada e a boca inchada, as super famosas precisam se distanciar e aparecerem - e parecerem!! - mais sutilmente.

Outra atriz que sempre gera comoção quando surge é a Lindsay Lohan que, mais que a Anne, teve um glow up providencial nos últimos anos e vem mexendo de maneira sutil e estratégica no rosto. E veja bem, a sutileza é meio que modo de dizer, mas é tudo muito estratégico e cirúrgico, talvez literalmente falando. Bom pra elas!! E caro pra gente!

O PADRÃO DE BELEZA PULVERIZOU

E se até a década passada o padrão de beleza era mais “unificado”, se pensava numa Kardashian como algo mais real versus aquela beleza hollywoodiana de sempre, o tal padrão está pulverizado. O que poderia ser bom, afinal, mais padrões… menos padrão, mas que nada, tudo isso parece ser mais uma artimanha consumista para confundir e que vítimas sejam cooptadas a testaram mais procedimentos, mais cremes e mais facelifts.

No final das contas, somos reféns cansadas do excesso de informação, excesso de procedimentos e nenhum supostamente adequado pra gente. O tal burnout iminente (ok, ele já é real), não vai fazer a gente andar de cara limpa por aí, vai fazer a gente consumir mais. Afinal, o que é a exaustão senão um conjunto de sintomas que as marcas de beleza precisam resolver? $!

Beijos e boa semana!

Thereza