“Assim como a depressão está muito relacionada ao passado, aqui o problema é o que nos espera no futuro”
A frase acima sintetiza a ecoansiedade, o neologismo do ano. Já tive oportunidade de falar algumas vezes o quanto me tornei uma pessoa ecoansiosa e como todas essas mudanças climáticas mexem comigo e com MUITAS PESSOAS.
Esse "medo crônico da catástrofe ambiental" entrou recentemente pro dicionário da Oxford e é algo que tende a aumentar, tal qual os termômetros mundo afora. Por conta disso, convidei a Psicóloga Vanessa Gebrim, Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC de SP, para responder algumas perguntas sobre o tema, tirar dúvidas e acalmar nossa alma também!
FASH: De onde veio a expressão ecoansiedade, do que se trata e como se tratar?
Vanessa Gebrim: A expressão 'ecoansiedade' começa a aparecer na literatura, ainda em livros de ecopsicologia, na década de 1990. Mas só agora a gente está vendo esse tema ganhar projeção. O que é? Ecoansiedade, ou ansiedade climática, é o medo crônico de sofrer cataclismo ambiental, de acordo com a Associação Americana de Psicologia. É a preocupação com o futuro associada ao impacto das mudanças climáticas.
Para lidar com a ecoansiedade sugiro o contato com a natureza e conversar sobre ações coletivas e políticas públicas que visam a sustentabilidade.
FASH: Quem sofre mais com a ecoansiedade?
Existem dois grupos que sofrem mais com a ecoansiedade: a Geração Z e os Millennials, que são os bebês da mudança climática. Uma galera que também escutava desde cedinho que o mundo estava chegando a um ponto irreversível no aquecimento.
FASH: Como evitar que a pessoa tenha ecoansiedade? Alienar-se dos problemas é a solução?
Sentir que se está fazendo alguma coisa a favor do ambiente pode ajudar a reduzir os sentimentos de impotência. Algumas ações que podem ter um efeito positivo são, por exemplo:
* Falar com outras pessoas sobre o que são boas práticas ambientais.
* Fazer voluntariado num grupo ambiental ou aderir a uma manifestação.
* Adotar um estilo de vida mais amigo do ambiente e que esteja alinhado com os seus valores, através da reciclagem ou de uma dieta mais sustentável. Sempre que possível, optar por meios de transporte ecológicos alternativos e outros.
FASH: Como os adolescentes podem ser manter conscientes, eventualmente atuantes, e ainda assim driblarem a ecoansiedade e o medo do futuro?
Eles já estão muito mais alertas. Segundo um relatório realizado pela organização The Lancet, os jovens têm formas para lidar com as mudanças climáticas, dentre elas, 33% dizem que buscam reconhecer as realidades vividas, 30% afirmam ensinar a si mesmos e outros como gerar impactos positivos, já 27% dos entrevistados dizem que a chave é a participação ativa em iniciativas de combate às mudanças climáticas.
Os jovens esperam – e têm demandado – mais ações governamentais e informações realistas. 33% espera soluções dos governos federais, enquanto 30% espera algo da ONU (Organização das Nações Unidas) ou das organizações internacionais e 29% dizem que este papel deveria ser dos governos locais – além de terem expectativas por empregos mais sustentáveis e soluções práticas.
O relatório compartilha que a forma com que esses jovens têm consumido informações também mudou: há preferência para a mídia local e social no lugar de mídias mais tradicionais.
FASH: Com o desenrolar da pandemia, logo surgiu o desenvolvimento de vacinas que já nos davam uma luz no fim do túnel. Agora parece que a crise climática é uma questão mais incontrolável, e quando a gente percebe que a solução não está nem ao alcance de cientistas - quem dirá ao nosso - bate a tal da ansiedade. Até pouco tempo atrás era fechar a torneira ou trocar o canudo, agora nos resta a alienação? O que, afinal, está nas mãos do cidadão comum a essa altura do campeonato?
Cada um fazendo a sua parte! Aposte em um consumo responsável e na reciclagem para proteger ao máximo o meio ambiente. Reduza também o consumo de plástico. Faça atividades sustentáveis, como construir uma horta urbana ou praticar plogging que consiste em coletar lixo plástico enquanto se pratica uma corrida leve.
FASH: A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, como equilibrar o comportamento consumista e ainda ter consciência ecológica e não parecer hipócrita?
Usar tecidos que causem menos impacto ambiental como algodão orgânico e lã;
1. Reduzir o desperdício dos tecidos durante as etapas de corte e costura;
2. Utilizar corantes naturais;
3. Usar de forma eficiente os recursos hídricos na fabricação e no cultivo da matéria-prima. ; Quanto ao equilíbrio do comportamento consumista é importante que o consumidor manifeste em suas compras a preocupação com as questões ambientais e também sociais que envolvam a produção em massa das fast fashions trazendo o equilíbrio.
FASH: Particularmente eu tenho a sensação de que estamos atrasados resolvendo um problema urgente e praticamente sem solução. Quando penso na minha filha de 3 anos e faço cálculos, minha ansiedade passa de todos os limites. Como driblar essa impotência e pessimismo, muitas vezes incapacitantes, e ainda criar uma criança de forma otimista?
Algumas dicas como desenvolver a resiliência, ver o lado positivo das situações, desenvolver a regulação emocional e busque coisas que tragam sentido para a sua vida, e procure sintonia com a natureza, família e o planeta.
FASH: Enquanto sociedade, buscamos fazer nossa parte, mas junto com a ansiedade, há uma revolta, por exemplo, com bilionários que seguem em seus jatinhos emitindo co2 de maneira desproporcional. A desigualdade social só piora, nos deixa ecoansiosos e ainda indignados. Como lidar com sentimentos ruins e ainda buscar fazer o certo?
Nem sempre é fácil lidar com sentimentos ruins. Por isso, o indicado é sempre buscar ajuda profissional, de um psicólogo para falar dos problemas e sentimentos aflitivos e encontrar um caminho para resolver essas questões.
Obrigada Vanessa pelas informações! E quem tiver mais interesse sobre o assunto, vale acompanhá-la em seu site ou Instagram!
E vocês, são acometidos pela tal da ecoansiedade e como driblam esse sentimento?!