Não existem mais It girls por acidente, tal qual antigamente
As it girls de hoje não surgem naturalmente, mas são meticulosamente criadas.
Em abril desse ano, a New York Magazine fez uma longa matéria sobre it girls, seu passado, presente e futuro. A publicação americana sazonalmente cria edições elencando - ou melhor, alçando - as it girls do momento, e eles ainda são humildes, citam a expressão como “um fenômeno particularmente nova iorquino”.
Em suas capas já passaram nomes como: Grace Jones, Bianca Jagger, Carolyn Basset Kennedy, Chloe Sevigny e um elenco estrelado. Agora se estamos lidando com estrangeirismo, gosto de usar outro pra sintetizar o que uma it girl tem: um je ne sais quoi… ok, ok, uma bossa, um lance, um mojo, uma coisa inexplicável, um carisma fashion.
A revista dá sua versão: uma it girl é jovem (mas não é pré-requisito, segundo eles, Iris Apfel é um bom exemplo para além dos 20 anos) e gosta de sair. Tem um senso de estilo, mas estilo próprio mesmo. Não tem necessariamente emprego, mas se bobear tem até dois. Um quê misterioso é algo bem it e, se ninguém souber o que ela faz ou de onde você veio, melhor ainda! Uma it girl precisa ser inexplicável, você precisa ver!
Uma it girl não se autointitula it girl - isso não é nada it! - mas é nomeada por formadores de opinião… não fãs, mas sim jornalistas, colunistas, fotógrafos. Uma vez o célebre fotógrafo (e dono de uma das principais agências de fotos de celebs) Patrick McMullan disse:
'“uma it girl é uma mulher que todos se sentem atraídos, alguém sobre quem as pessoas querem fofocar”.
Uma it girl é quando astros se alinham e uma pessoa só reúne estilo, carisma e influência, tudo agrupado ainda que de maneira despretensiosa, mas implacável. Daí a pessoa se torna famosa por aparecer, famosa por ser jovem, famosa por ser divertida, famosa por ser famosa.
“Ahh, mas muita gente tenta isso”
É uma verdade, em tempos de celebridades, das mulheres frutas, do Ego (o site), passando por todas influencers da era digital, esse é um desejo latente, comum e até válido… mas nem todos conseguem reunir esses predicados, muitas vezes inexplicáveis, de maneira natural.
Bom, até essa geração presente.
Não se fazem mais it girls como antigamente
E por que eu resolvi falar sobre it girls do nada? É que comunga com nossas últimas conversas recentes sobre a disseminação de certas aesthetics e como elas tem viralizado, mais precisamente sobre quem ilustra esses -core.
Na história digital recente, pós Olivia Palermo ou Alexa Chung, podemos citar as Instamodels ou Nepobabies como supostas it girls vindas direto das vitrines do Instagram. Basta ser bonita, ter contatos (pais) e meio caminho andado pro sucesso (isso sem entrar no mérito de classes e padrões).
E entre Haddids e Jenners, os últimos 2 anos foram potencializados por uma presença mais agressiva dessas personas. Elas são um misto de influenciadora, criadora de conteúdo e celebridade por si só, mas não confunda, ser it girl não é isso, na realidade, é quase que o oposto.
A New York Magazine costuma dizer em suas matérias sobre o tema, que uma it girl necessariamente surge de forma orgânica e espontânea. Ela não é moldada ou tem milhões de seguidores, pelo contrário. Ela pode até virar mainstream, mas ela cativa e fascina justamente pela silenciosa exclamação “who's that girl???”.
Parafraseando uma pensadora contemporânea que admiro - e craque desse mundo digital fashion, Kiki Miozzo aka Checkthetag, numa conversa recente sobre o impacto dessas garotas bonitas e famosas, mas não necessariamente it girls.
It girl é muito mais do que apenas ser influencer. It girl é sobre zeitgeist. Hoje, na nossa cultura tão focada em tendências rápidas e consumo absurdamente voraz de influências, a ideia da it girl original provavelmente nem tenha mais espaço.
E sabe quando você está perambulando pelo Insta e vê uma garota com meia dúzia de seguidores, mas uma eternidade de fotos lindas, looks estilosos e styling impecável? Daí você fica admirada e se questiona pq essa garota não tem mais seguidores??
Por outro lado, você vê uma pessoa aleatória com milhões de seguidores e carisma de centavo e pensa… que aleatória, nunca ouvi falar! Pois bem, certamente a primeira pessoa é uma it girl que inspira e a segunda uma pessoa que apenas influencia.
A máquina de fazer It Girls
E o motivo de inspiração da nossa newsletter está justamente na matéria que li hoje no Business of Fashion: A máquina de PR construindo a nova geração de IT GIRLS, elas não apenas nascem, mas são feitas.
Segundo eles, a safra atual de It girls não ganha o título por acidente, por trás de cada celebridade famosa por ser A famosa do momento, existe uma equipe de publicitários, stylists e outros criadores de imagens fazendo “isso” acontecer.
Aliás, it girl - ou até influenciadora de moda mesmo - com stylist pendurado no braço é outra pauta polêmica aqui e lá fora, mas assunto pra talvez outro post.
Enquanto isso, uma figura ilustrou o imaginário das its, das aesthetics e dos old moneys nesse verão americano…
Caso Sofia Richie Grainge
A It girl deste verão. Seu casamento em abril de 2023 no sul da França desencadeou uma onda de interesse, com os usuários do TikTok rotulando-a de cara do estilo “old money”. As pesquisas pelo nome dela no Google foram multiplicadas por 100 nos dias anteriores e posteriores ao casamento.
Desde então, ela assinou colaborações com marcas como Jo Malone e Maybelline, sentou-se na 1a fila do desfile Cruise da Chanel em LA (a marca fez 3 looks sob medida para seu casamento), conquistou mais de 3 milhões de seguidores no TikTok e estampou capas, matérias e editoriais.
Não havia garantia de que as núpcias de Sofia se tornariam tão virais quanto foram, ou teriam uma vida após a morte online tão prolongada, mas isso também não significa que aconteceu por acidente e a it girl foi construída pra reinar na temporada.
E a publicação ainda pontua que não basta ter physique, entourage ou dinheiro (pra expor essa presença e financiar essa estrutura), é preciso ter um entendimento que entrar no imaginário coletivo, fazer parte do ecossistema e do ambiente cultural, é preciso de fato ter o tal ir e, talvez, isso não tenha preço.
Construir uma marca que se estabeleça por 10 anos, é o desafio de qualquer segmento dessa sociedade digital. O que é curioso e totalmente irônico, afinal, se os vídeos são curtos, as FYP são ágeis e os POV são superficiais, as pessoas que surfam nessa onda precisam ultrapassar a marola inicial e não se afogar em meio à concorrência, ego e o desafio diário e constante de ter foco e estratégia!
Refresh! Quem fica?
Beijos e boa semana!
Thereza
não sei se sou mt saudosista, mas ainda estou apegada a alexa chung e olivia palermo. Gosto mt da brasileirissima vic hollo (segundo eu é uma it girl). Mas realmente, esse título ficou mt desinteressante desde que o mundo dos PRs entrou forte para construir quem devemos admirar o estilo. As personalidades da moda já me entreteram mais.
Thereza, enquanto lia, meu marido viu a tela e perguntou: "O que é it girl?". Como o digníssimo é bem treinado, ele mesmo já teve a proatividade de dar um Google e entre os primeiros resultados da busca tinha uma matéria sobre a Helena Bordon, a IT tupiquiniquim. Me levantei em um salto e em dois tempos voltei com aquela edição histórica da Teen Vogue Brasil, capa Aline Moraes, dos idos de 2007. Apresentei Heleninha (na época todo mundo chamava ela de Heleninha) pro marido e fiquei dando umas folheadas. E fiquei pensando: o que viraram as It originais? Será que todas viraram influencerszzzZZzzz como Heleninha?