FASHION WEEK REPORT: A moda vai mudar!
A beleza acabou, os saltos não existem mais... monumentalismo?
Estamos vivendo a revolução, quédizê, antes da revolução vem o vácuo, estamos no vácuo da moda. O limbo que precede o esporro.
Não, eu não bebi nessa tarde primaveril de terça-feira, mas ando impressionada com os rumos da moda. Tem se falado muito sobre um design mais minimalista, sobre uma moda mais comercial, confortável e eficiente pra vender.
O contraponto disso? Outro dia descobri que o oposto do minimalismo não é necessariamente maximalismo, mas pode ser chamado agora de MONUMENTALISMO, basicamente “linhas simples, mas de volume máximo, megaefeito, impacto usando pouco.”
A real é que essa temporada foi recheada de básicos, utilitários e pouca invenção de moda. Se os estilistas não estão inventando moda… quem estará?
No nosso report sobre essa temporada FW que terminou hoje, vamos analisar as 7 principais tendências da temporada, o barulho da Peta, o silêncio da beleza, o sumiço do sapato e outras coisas mais!
TOP 7 TENDÊNCIAS
Falaremos de momentos virais, marcantes e relevantes, mas começamos falando pelas tendências que rolaram durante a temporada.
Note que, diferente de qualquer temporada já vista anteriormente, vivemos a era das tendências básicas, convencionais, comerciais! Tudo numa embalagem mais atraente, moderna, num styling mais apurado, ainda assim é uma temporada básica!
Seja transparente
Se eu puder escolher a tendência número 1 dessa temporada, podemos dizer que é a transparência. Mais que uma aesthetic, é um sentimento, um desapego com a moda, peças mais sutis, ainda que marcantes e sexies, muito sexies!
De blue jeans
Outro item absurdamente visto e revisto, o jeans! Pura e simplesmente jeans, mas reinventado, destruído, reconstruído! Há algumas temporadas Glenn Martens vem recriando o material à perfeição na Diesel, mas agora o denim se espalhou, se modificou e encantou!
Camisa branca
Formando a tríade das maiores tendências da temporada, a camisa branca foi soberana, elegante e impecável! Sempre com um styling apurado, diferente e também atemporal. É tempo de recriar a sua!
Polo chic
O estilo preppy foi uma versão que veio à parte do ideal quiet luxury em looks chiques e discretos. Nessa temporada, esse uniforme mais formalzinho e de patricinha surgiu em looks mais elegantes e românticos
Casaco amarrado
Um truque de styling e quase uma ilusão de ótica que foi coincidentemente visto em alguns desfiles importantes da temporada. Também emulando essa energia quiet luxury, as mangas casualmente amarradas sobre os ombros dão o tom chique e descomplicado!
Cinto Muito!
O item cinto não pode ser considerado modismo, afinal, ele taí pra segurar suas calças, mas nessa temporada vimos versões maiores, exageradas e decorativas. Pode reparar que a silhueta começará a surgir com cintos diferentes.
Renda-se
Há algumas temporadas temos visto - e avisado! - que as rendas tem feito um comeback! Seja em detalhes ou peças individuais: estamos rendidas. Não importa o tipo de renda e a transparência acrescida, ela é o momento!
Moda Manifesto




Há tempos não se viam TANTOS manifestantes invadindo passarelas! Tudo começou no desfile da Coach na #nyfw e um manifesto contra o famoso couro da marca contemporânea americana. Em Milão, foi a vez da Burberry e na temporada milanesa, o foco foi na Gucci. Daí lógico que Paris teria seu momento!
Uma manifestante riscou a passarela da Hermès se posicionando contra o uso de couro exótico da marca. Geralmente a manifestação acontece e os seguranças são instruídos a “acompanharem” a pessoa pra fora de forma ~pacífica, existe inclusive uma segurança muito específica pra esse tipo de ato. Mas eis que o influenciador Bryan Boy, vestido de sagacidade, mas despido de noção, arrancou o cartaz da mão da ativista e entrou pra história do movimento.
Acompanhando pelas redes sociais, vi que muita gente achou graça do fato, falaram que ele teria Birkins para sempre. Mas outras pessoas criticaram a atitude, talvez pontuando que são manifestações “pacíficas” e ele era um “homem confrontando uma mulher sem autorização legal”.
Eu tenho opiniões complexas sobre essas manifestações: o mundo tá derretendo, os animais estão morrendo e a gente ainda tá comprando sapato (parafraseando o livro que recomendei outro dia). Não somos hipócritas, mas por que afrontar e desafiar a causa mais do que já se faz no dia a dia?
Lógico que há um business muito sério e complexo na cadeia da moda e na estrutura de um desfile por si só. Mais do que ricos engravatados que lucram às custas do meio ambiente, tem pessoas “comuns” que dependem desse trabalho, com isso, acho que esse tipo de manifestação habita pacificamente em meio ao caos.
Acredito que a Hermès ficou mais incomodada com a polêmica que a reação dele causou, do que os 2 minutos que a manifestante riscou a passarela.
Agora a curiosidade que fica é COMO os manifestantes andam tendo TÃO fácil acesso aos locais de desfiles sempre tão seguros? Essa matéria da GQ tenta decifrar isso com uma entrevista com um ativista da Peta.
A beleza sumiu
A beleza da maquiagem, do cabelo, do esmalte… ela sumiu! Lembra uns anos atrás quando todo e qualquer desfile da Chanel a gente esperava o esmalte da vez? Lembra quando a Dior entregava maquiagem conceitual que a gente não sabia onde usar, mas queria copiar?? Lembra quando Marc Jacobs fazia os cabelos mais loucos???
Tenho a sensação que a beleza nas semanas de moda tem sido mais discreta do que nunca. Lógico que de forma proposital, afinal, foco na roupa, mas também de forma displicente. E o curioso é que vivemos em tempos digitais onde se sabe o nome e sobrenome de make up artist, onde maquiadores tem sua própria maquiagem, onde uma Pat McGrath da vida é mais famosa que muita marca.
Sinto falta em desejar instantaneamente um batom rosa pink fuchsia matte, em saber a misturinha, o acabamento. Sinto falta em desbravar nomes de cores, ids completos e caçar versões inspireds. Me questiono em saber o motivo pelo qual as marcas, que tem suas linhas de maquiagem (!!!), não fazem esse segmento mais protagonista na passarela. Se alguém souber a resposta, me fala!
A crise do salto e o peso da roupa
Poderia estar no segmento das tendências, mas é preciso falar como os saltos foram pro chón! Lógico que eles estavam lá, eventualmente altos e soberanos, mas muito no aspecto ““conceitual"" da passarela, porque o movimento é salto baixíssimo!
Parece que tem décadas, mas não tem nem dois anos que os sapatos plataforma da Versace invadiram coleções e closets, mas agora, dá pra afirmar com a tranquilidade de quem acompanhou basicamente todos os desfiles da temporada: serão tempos sem salto.
E essa minha conclusão só pôde ser publicada com convicção mesmo depois do desfile de hoje da Chanel que lançou sandálias insignificantes que mais parecem Havaianas, mas numa versão de veludo e com logo estratégico.
Totalmente sinal dos tempos que veremos em breve. Por mim tudo bem!
O engraçado é que numa matéria que li do NYT, e que fala justamente sobre isso, é que com o ~fim dos saltos, as roupas terão mais RESPONSABILIDADE rs Lembra uns 7 anos atrás e a onda dos sapatos feios? Agora os sapatos estão na fase estética do INSIGNIFICANTE (quedize, funcionais, mas esteticamente insignificantes).
O momento viral da temporada


Toda temporada que se preze tem aquele momento em vídeo que define a fashion week. Ano passado, por exemplo, foi a Bella Hadid no vestido em construção da Coperni.
Corta pra esse ano, praticamente aos 45 do segundo tempo, foi a vez de Anok Yai desfilando para Mugler num vestido literalmente ESVOAÇANTE, ESTONTEANTE, CAPOTANTE.
O ventilador ajudou, o degradê fez diferença, agora o catwalk da diva é de outro mundo, um vídeo que será lembrado.
O adeus da Sarah
Houve uma dança das cadeiras fortíssima nas últimas temporadas de moda. Um entra e sai de estilistas sem precedentes, mas um fim me marcou: Sarah Burton fora da McQueen.
A estilista era a última conexão de Alexander com a McQueen e sabe-se lá porque a Kering - dona da marca - encerrou essa “parceria” de mais de uma década e com um vestido de noiva da futura rainha da Inglaterra no meio.
E a coleção de despedida está definitivamente entre meus desfiles favoritos da temporada. Um desfile tão bonito que arrancou lágrimas até da própria impávida Naomi Campbel que desfilou com lágrima nos olhos.
Pra ler - FW EDITION!
Do NYT: A moda baixou a guarda, a Peta avançou.
Da Vogue: O streetstyle da Paris Fashion Week.
Do Washington Post: Precisamos de mais estilistas mulheres.
Do NYT: A vingança do Maximalismo
CR Fashion: O primeiro tênis da Fendi (é lindo, e futurista!)
H&M: Do nada a rede sueca anunciou sua collab do ano com Rabbane!
Estou odiando o vácuo, rs. Quero alegria, entusiasmo. Quero Oscar de la Renta. <3
E Sarah deixará saudades...
The, sobre a ausência dos sapatos de salto, lembro de ter visto um vídeo anos atrás (link: https://www.youtube.com/watch?v=V2fWKe_Mfp0) que faz uma correlação interessante entre o uso de salto alto e economia, que quando estamos em períodos de recessão sapatos de salto se tornam tendência - curioso, né? Um exemplo disso são aqueles sapatos enormes da Versace no pós-pandemia. Não sei se essa teoria pode ser aplicável agora, com o mundo acabando etc, mas acho que é algo interessante de se considerar.