ENDCORE: Pelo fim das microtendências!
Formas "erradas" de se vestir para descobrir algo novo
Ao final de toda temporada, é tradição no Fashionismo compartilhar um resumão de tendências, mas dessa vez, em tempos de newsletters mais reflexivas sobre consumo & e futuro, vamos fazer diferente, vamos engrossar o coro pelo fim das tendências (ao menos das micro tendências)! E não é coisa nossa, mas sim um apelo de Miuccia e sua Miu Miu no último dia da FW em seu catártico - e mais popular ainda - desfile.
O cenário era uma instalação conceitual que envolveu a passarela em uma grande prensa de jornal, pedindo ao público que questionasse a verdade em um mundo pós-factual. Havia também um jornal esperando nos assentos dos convidados, e quando você escaneava o código QR, ele o levava a um ensaio intitulado "Estamos no Endcore agora" de Shumon Basar.




“O "Endcore" é o que chamam da sensação de que tudo o que antes pensávamos como permanente agora está se desintegrando lentamente, mas o apocalipse nunca chega de fato. Sentimos que o fim está se aproximando, como se um asteróide estivesse voando em nossa direção; mas também, estranhamente, parece nunca nos alcançar. Então continuamos esperando. Segundo o ensaio, Endcore é uma espécie de limbo existencial, quando estamos presos em uma espera perpétua, vivendo em um estado "depois", não pós-modernidade ou pós-qualquer coisa específica, mas pós-tudo.”
Onde que a moda entra nessa?
Miuccia, que sempre provoca com looks e reflexões existenciais/intelectuais, pensou numa coleção propositadamente CONFLITANTE de tendências vigente, do seu próprio acervo e ainda misturou tudo de maneira estranha, ainda que muito coesa. E assim como na Prada, elementos díspares foram combinados para um efeito atraente e fascinante.
Se nos últimos anos a marca se destacou por seus twinsets, croppeds e minissaias que se espalharam mundo afora feito pólvora, pra essa estação a provocação foi confundir tudo.
Itens da passarela »» Casacos esportivos, vestidos de algodão , uniformes colegiais, estampas geométricas, tench vintage, camisolas brancas, bordados gráficos de paetês, munhequeiras nos pés com resquícios de logomania, maiôs cavados, bodies infantis, cintos descombinandos, famigeradas peep toes e +++
Styling adotado »» Bodies sensuais e recortados foram justapostos por alfaiataria de boa moça e saias midi. Cintos foram dobrados – em alguns casos, triplicados – e colocados sobre vestidos e camisa. Saias de camurça estilo anos 70 foram combinadas com jaquetas ciclistas estilo anos 80 em tons brilhantes.
As justaposições são estranhas no papel, mas sem esforço na passarela e elas refletiam o próprio ethos da Endcore: nada pertence, mas tudo se encaixa. É uma mistura de contradições, perfeitamente alinhadas com o espírito caótico vigente.
Segundo a Vogue, o desfile foi “um aceno direto à fragmentação cultural do nosso tempo” e o que isso significa? Que a ideia é acabar com isso tudo, é um último sopro, um refresh e também quase que um pedido pelo fim das tais -cores e ~aesthetics vigentes. Basicamente um CHEGA! BASTA!
Maximalismo, estranheza & autenticidade
Eu acho muito curioso como a coleção clama por “individualidade”, especialmente nesse mundo cada vez mais engessado e dominado por algoritmos limitantes . A própria Miu Miu, que sempre foi mais pensada para garotas quirky/descoladas que equilibravam um toque vintage italiano com uma autenticidade francesa e que era a versão mais jovem e irreverente da Prada, de dois anos pra cá se popularizou e caiu no gosto de toda e qualquer it girl com posses.
A marca, inclusive, tem uma política de apenas emprestar looks completos, seja pra capa de revista, para celebridades ou influenciadoras, aka que seja o exato da passarela. Basicamente uma produção pronta e automaticamente supervisionada por Miuccia e cia.
Stylists não costumam gostar dessa ideia de serem tolhidos, mas nada impediu da marca estar no topo das mais vendidas, repercutidas e desejadas. A Miu Miu desempenha um papel de destaque a cada ano: as vendas do quarto trimestre aumentaram impressionantes 82%.
O que vamos esperar do verão de 2025? Descobrir como esses looks de muitas camadas, caos e contradições, serão interpretados com a tal personalidade que eles clamam.
Em busca da autenticidade perdida
Agora no final das contas, como toda essa reflexão fashion existencial pode ecoar no consumidor pedestre aka na gente?
Na busca pela criatividade.
Na urgência de ensaiar novamente pelo estilo próprio x confiar em qualquer tendência. É bagunçar as ideias gerais pra você criar sua versão do caos. É extrapolar ~aesthetics e experimentar linguagem própria. Ou ao menos tentar… e isso já vai ser bonito demais!
Beijos e boa semana!
Thereza