🚨 BELEZA URGENTE: Sem pressa pra comprar nada
Os virais são até arrebatadores, mas o desejo de comprar ainda é frágil, volátil e tem o valor de um chaveiro.
O ano era 2008 e uma blogueira qualquer usava um batom Snob postado casualmente no Webblogger ou Twitpic. Eis que você gostou (sim, éramos todas meio doidas na década retrasada). Logo se viu tentada. Esperou o final de semana e se dirigiu à MAC mais próxima pra experimentar esse ou um outro batom rosa (eu preferia o Pink Nouveau) qualquer pra também chamar de seu.
Como diria a música, that's “the ciiiiircle of life”. Parecia tudo muito imediatista, mas ainda era lento e muito prazeroso.
Era um acontecimento você viver o doce sabor da influência entrando pelas suas veias mais consumistas até atingir o ápice do *compra aprovada*. Ou simplesmente ter a consciência de desistir por não achar nada demais.
Podia ser o esmalte Big Universo na farmácia mais próxima ou o Moroccanoil importado diretamente do glorioso Strawberry.Net da distante China. As compras geradas através de gatilhos de desejo criados por influenciadores - antes do termo sequer existir - não são novidade, pelo contrário, existem desde eras mais analógicas. Só que em tempos de redes de vídeo curto e virais mil, elas aumentaram a cadência vezes mil.
🚨🚨🚨 É TUDO MUITO URGENTE
Assim, com caps ligado e negrito ativado.
Os virais são até casuais, juvenis, mas logo se transformam em necessidade desenfreada no nível 5 do créu.
O blush com aparência de gelatina, o batom com sabor de pretzel de canela, o perfume feito por freiras mancas da Capadócia.
Urgente, pero não tanto.
Com os preparativos da minha viagem, logo preparei uma singela lista de beauté de produtos que precisava repor, algumas marcas novas que tinha curiosidade e outras coisinhas virais que me pareciam interessante.
Observo de longe o comportamento da Gen-Z, mas também sou uma millennial filha de Deus e repleta de adoráveis desejos consumistas pujantes. Eis que chego na primeira Sephora que vejo, entro, e logo toda a urgência viral algorítmica me passa pelo simples crivo do…
“eu preciso mesmo desse blush bolotinha”?
É que por mais possível - e acessível - que um viral possa parecer, você vai na loja e dezenas de marcas, milhares de produtos coexistem com menos urgência. Tipo, a Sephora tá lá, grandona, abarrotada de gente, mil marcas novas, produtos revolucionários, tecnologia, coisa e tal. Daí aquele tal viral fica meio irrelevamte e você desiste dele pra procurar no analógico dorso da sua própria mão o tipo de blush certo pro seu tom de pele.
Obviamente eu falo isso como uma jovem senhora de 40 anos que não é mais tão suscetível assim, ainda que atraída por toda a propaganda & marketing. Na vida real ainda é diferente e o tal furor e comoção digital, se enfraquecem diante de tanta coisa. É tipo aquela expressão também viral, “Na fila do Assaí só se fala em outra coisa”.
E ainda existe o bônus (ou ônus) das então absolutas comprinhas de farmácia. Antigamente você viajava e corria pra CVS ou Wallgreens mais próxima em busca daquele esmalte da Essie, dos cílios postiços da Revlon ou do secador da Conair… hoje em dia essa experiência não é mais a mesma.
Por conta de mais furtos (e uso indevido de produtos como se fossem Testers), toda farmácia agora tranca seus produtos de beleza. E não é por preço não, seja um batonzinho mais maroto ou um hidratante complexo, fica tudo trancado e você tem que tocar a campainha pra funcionária chegar.
Daí o questionamento segue…
“Preciso mesmo daquele óleo secante de 1 segundo?”
E isso meio que faz com que as comprinhas mais consumistas… fiquem comedidas e recatadas. Ruim pras nossas lombrigas consumistas, mas ao menos bom pro bolso, vide dólar a R$5,80 KKKRY.
Analógico x Digital
Uma experiência de beauté que me marcou foi visitar a Glossier. Marca pioneira no digital de uma influenciadora (e ex personalidade de reality show aka The Hills) que virou empresária de sucesso de uma empresa bilionária, mas que andou tendo seus altos e baixos.
A Glossier nos últimos anos passou por alguns problemas financeiros e de funcionários, não à tóa a Emily Weiss (fundadora) deixou o cargo de CEO. Nesse período eles precisaram se reinventar, receberam mais aporte financeiro, passaram a ser vendidos na Sephora e, boom, o sucesso voltou.
Fui na loja deles em Williamsburgh e é uma graça. Eis que ia apenas fuxicar e de cara a moça na porta avisa com tom de “viral”: qualquer compra hoje ganha essa linda mala rosa de viagem. Hmm, pra quem não ia comprar nada, logo me interessei
Eis que ao final saio com um hidratante de rosto, outro labial, uma linda bolsa que não precisava, um chaveio, amostra grátis de perfume sólido e ainda algumas necessaires da marca.
Olha a ironia, fiquei impressionada, logo, caí num bom marketing analógico em tempos de muletas digitais de sedução algorítmica. E quem diria, em pleno 2025 quase, IA, realidade aumentada e o sucesso ainda vem num chaveirinho de marca.
Por mim tudo bem, influenciada com sucesso!
Beijos!
Thereza
E louco pra ver a mala aaa
Adorei essa edição. Moro em NY e é muito frustrante ter que apertar o botãozinho do atendimento toda vez que preciso de um balm ou um esmalte. As vendas desse tipo de item nas farmácias estão despencando porque a experiência de compra é horrível. E cada vez mais vejo lojas físicas - sejam temporárias, estilo pop up, ou fixas - para oferecer uma experiência que, não importa o quão viral a marca seja, simplesmente não é possível de transmitir no online… e é aí que me conquistam! Comprar “pegando o produto na mão” é outra coisa….