FASHwine #5: Aromas inusitados, vinhos diferentes!
Estábulo, salame, xixi de gato e maresia, aromas estranhos, mas sabor inigualável
Por Rodrigo Dreux - Editor de vinho e gastronomia
Já parou pensar na quantidade de aromas inusitados que podem aparecer na descrição de um vinho? Quem se imaginou degustando um vinho com cheiro de estábulo, petróleo, salame, xixi de gato? Ou simplesmente estar num restaurante e descobrir que aquele tinto super indicado pelo sommelier lembra o cheiro do seu cachorro quando pega chuva. Por mais que possam parecer (e muitas vezes realmente são) estranhos, esses compostos aromáticos, quando bem equilibrados, geram uma experiência, no mínimo, intensa na degustação.
Claro que, em diversas situações, aromas e sabores pouco usuais são defeitos de fato, como por exemplo, os de enxofre, vinagre ou papelão, que ocorrem por problemas de contaminação, armazenagem ruim ou pelo vinho estar simplesmente velho para o consumo. Porém tem uma série de sensações fora da curva que o vinho pode proporcionar que só experimentando pra saber se você vai amar ou detestar.
O importante é manter a mente, bem como as papilas gustativas, abertas para novas experiências. Então, vamos conhecer alguns dos aromas mais loucos que podem te encantar!
Estábulo, Pelo de Cachorro, Sela de Cavalo
Estranhos, não? Porém, bem mais presentes do que podemos imaginar. Esses compostos aromáticos se dão pela presença da famigerada Brettanomyces, que nada mais é do que uma levedura que pode se proliferar no processo de fermentação. No mundo do vinho, carinhosamente chamada de Brett, é motivo de discussão entre quem defende e quem condena. Muito comum em vinhos naturais e artesanais, que não fazem uso de SO2 ou conservantes.
No Brasil, muitos tintos apresentam o Brett, que pode ser considerado como "defeito”, por isso alguns especialistas os classificam como selvagens, pelo fato de apresentarem essas notas animais.
Só experimentando pra saber, mas se quiser uma dica, eu poderia indicar o Lídio Carraro Agnus Tannat. Tem fruta madura, chocolate amargo e um final de boca levemente rústico com notas de couro, típico do terroir da Serra do Sudeste no Rio Grande Sul.
Salame e Bacon
Não, o assunto não mudou pra fast food, mas esses aromas são bem comuns, principalmente quando falamos sobre tintos da uva Syrah de clima frio. Notas defumadas de casca de salame e carne curada são características de vinhos do vale do Rhone na França e das regiões costeiras do Chile. E quem é o responsável por esses aromas? O próprio Brett, porém nesses casos é utilizado de forma proposital e controlada para gerar essas notas de charcuteria e dar complexidade.
Eu adoro o chileno Undurraga TH Syrah Leyda com o estilo clássico dos vinhos do litoral chileno, defumado, condimentado, cheio de especiarias e com uma nota de carne curada no final.
Petróleo, Querosene e Pedra de Isqueiro
Agora ficou estranho, né? Mas devo dizer que os aromas de combustíveis fósseis, por mais estranhos que possam parecer, são um dos mais apreciados no mundo do vinhos. E se tem uma uva branca que se destaca por esse perfil é a alemã Riesling que é influenciada pelo composto aromático TDN, ou se preferir 1,1,6-trimetil-1,2-dihidronaftaleno, que entrega aromas de petróleo e nuances que mais se assemelham a um posto de gasolina.
Outra nota muito associada aos vinhos brancos alemães é a de pedra de isqueiro, um aroma tipicamente mineral, fino resultado da influência de solos rochosos nas uvas, como o caso dos vinhos da região de Mosel que tem solos ricos em ardósia. Sei que os brancos da Alemanha são bem caros, mas se quiser se familiarizar com a Riesling, uma sugestão é o australiano Angove Long Row Riesling que esbanja mineralidade e frescor.
Maresia, sente a maresia!
Finalmente um aroma agradável, mesmo que inusitado também! De qualquer forma o motivo é o mais simples. Se nos parágrafos acima, a explicação se deu pela ação de diferentes compostos químicos, agora é mais óbvio. Aroma de maresia no vinho ocorre pela ação da… maresia. Decepcionados? Vinhedos muito próximos ao oceano, principalmente em regiões com muita brisa, como California, Mediterrâneo e outras localidades costeiras, tendem a produzir vinhos com certa salinidade e isso é delicioso.
Tente procurar por vinhos da Península de Setubal, como o Periquita Tinto Reserva, super comum aqui no Brasil, para perceber essa nota de mar.
Xixi de Gato
Agora passei da conta, né? O pior é que esse aroma aparece muito numa variedade de uva bem comum: a Sauvignon Blanc, famosa por produzir vinhos brancos no mundo inteiro, com destaques para Bordeaux, Sancerre e Nova Zelândia. A questão é que esse cheiro herbáceo de aspargo verde e suor que remetem à amônia ou até caixa de areia de gato, mesmo podendo ser ocasionado por algum desequilíbrio no processo de vinificação ou liberação de enxofre, não é algo desagradável (a não ser que seja exagerado).
Na verdade é quase uma marca dessa uva popular e versátil que produz vinhos frescos e vegetais em climas frios e frutados e tropicais em climas ensolarados. Um rótulo interessante e com um preço legal é o argentino Finca las Moras Sauvignon Blanc.
Então, esses são alguns dos aromas intrigantes que encontramos até com certa frequência nos vinhos. Claro que ninguém é obrigado a gostar de nada, mas é sempre bom manter a cabeça aberta para essas experiências que certamente vão ampliar seu leque de opções e prazer na degustação.
Só lembrando que se o sabor for ruim, não estou dizendo inusitado, mas sim desagradável mesmo, há grande chance do vinho estar estragado realmente. Aromas de ovo, queijo velho, mofo, papelão molhado, vinagre ou que apresente amargor excessivo, são sinais de que você não só pode como deve, solicitar a troca do vinho na loja, mercado ou restaurante.
Espero que tenham gostado e se encorajado, rsrsrs! E se tiver algum sabor diferentão que já sentiu num vinho, compartilha aqui!
Abraços,
Rodrigo!