A estética do conteúdo
Enquanto a moda tem seus -core e ~aesthetic, as análises comportamentais da era digital também vem bem embaladas!
- Oi, me chamo Thereza, tenho 41 anos e sou viciada em Tiktok.
- Oi, Thereza!
Bom, viciada é um grande exagero, mas me pego uma vez ao dia durante bons minutos num looping eterno de uma mente cheia de lembranças de looks, receitas, pequenos vlogs e tudo que essa efervescente rede tem pra oferecer. E me dou por satisfeita.
Ela ainda está longe de ser minha rede mais usada (pode entrar, Twitter!!), mas meu algoritmo está mais interessante e ando sendo impactada com conteúdos mais legais e que até rendem aprendizado e reflexão.
E como na rede ao lado tudo tem nome, estética e vem embalados em títulos que disseminam a palavra, logo, conteúdo, venho compartilhar alguns que aprendi recentemente e que envolvem informação, fatiga e desencantamento.
TIKTOKIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Esse neologismo “tiktokização” não é novo, mas sintetiza todo esse estilo de vida imediatista pautado pelo app chinês. Eis que na semana passada li uma conversa muito bacana da Contente.vc com o cientista Sidarta Ribeiro, que conta como esse hiperestímulo de informações e imagens que o TkTk oferece, tem afetado nosso cérebro, atenção e sono.
De cara, é importante entender que não é que o seu cérebro é incapaz de retomar o processo de atenção, é que tudo o que você mostra pra ele tá acelerado, é extremamente sensorial e não requer esforço de atenção contínua. Com isso, o seu sistema de recompensas é ativado, gerando um processo de insaciabilidade do desejo.
Quando a gente coloca todo o nosso desejo nas interações através de telas, a gente vai embarcando na insaciabilidade do desejo, ou seja, o teto de satisfação da dopamina fica cada vez mais alto. Qual é o número de likes que vai te deixar feliz? Quantos vídeos ou posts você precisa rolar pra ficar feliz?”
A pergunta é: o que nos basta? Até quando esse consumo será suficiente? Por exemplo, tal qual meu drink de café (favor ler penúltima newsletter), eu jamais posso entrar no Tiktok à noite pois fico não apenas acelerada, mas ansiosa e até mesmo estressada. E ele fala justamente que esse aspecto de entrar no app antes de dormir prejudica no sono REM, que é o mais reparador, responsável pela produção dos sonhos e até a imaginação. Ou seja, a gente demora pra dormir e quando dorme, não é dos melhores sonos.
A realidade é que esse modus operandi da atenção dos segundos, melhor dizer, de centavos, veio pra ficar e vai impactar nossa geração ainda saudosa dos vídeos de 10 ou 20 minutos, mas também já cria uma nova era de crianças/adolescentes hiperestimulados de modo default.
As crianças hoje em dia estão acostumadas a estarem o tempo inteiro em estimulação sensorial e audiovisual. Com isso, aquele tempo livre que a criança tinha pra não pensar em nada, logo, deixar a imaginação fluir, não existe mais.
Como é que essas crianças, que serão adultos que precisarão da criatividade, vão aprender a imaginar se elas não tem tempo de qualidade consigo mesmas? Como elas vão aprender a sonhar se o sistema do sono está tão comprometido que elas não lembram que sonham?
Dois mil e vinte três e a gente vai ter que lutar pras crianças sonharem em paz! Socorro, como eu vim parar aqui, minha filha só tem 2 anos!
MAKEUP FATIGUE
Ainda no universo do Tiktok, aprendi uma expressão que em muito me identifiquei: estamos ficando cansados de maquiagem. Veja bem, não do ato de se maquiar em si, mas desse frenesi, obsessão, quase que um vício em se maquiar. Provavelmente deixou de ser saudável e precisa voltar à sua essência. A indústria está saturada!
Aprendi essa expressão no Tktk da Bel Bonemer, que faz um excelente trabalho em compartilhar insights e notícias do mundo da beleza.
Segundo a Bel, os consumidores heavy users de makes e redes sociais não se contentam com qualquer coisas e, mais, notam que muitas marcas não andam se reinventando, trazendo novidades de formulações ou embalagens. Um universo que meio que se retroalimentou, enquanto marcas saciavam clientes com lançamentos mil, agora eles estão insaciáveis e querem mais.
Só que eles não querem qualquer coisa. Essa geração é mais instruída, entende fórmulas, ingredientes, é até mesmo mais sustentável e ecológica.
E o motivo do cansaço dos jovens? Muito se dá justamente pela pauta acima: a tiktokização, só que da maquiagem! As trends e tutoriais muitos fugazes acabam fazendo com que produtos recém lançados logo se tornem obsoletos e marcas percam o timing e o apelo. Só que isso é muito segmentado para o público jovem e heavy user de maquiagem.
E aí que vem o cansaço: o público médio e que não consome maquiagem com tanto frenesi acaba ficando cansado do excesso de lançamentos e até mesmo de informações e essas marcas perdem o público médio e, convenhamos, o maior volume de vendas.
DESENCANTAMENTO DIGITAL
Pra finalizar nossa trilogia da exaustão digital, outro termo que aprendi há 1 semana e me identifiquei, logo, compartilho! Li sobre o “desencantamento digital” no Instagram da Consumoteca, que sempre traz insights preciosos sobre pessoas e dados.
E esse termo é justamente pra mostrar o quanto estamos rediscutindo nossa relação com o mundo virtual. E grande parte dessa transformação vem justamente dessa era pós-pandêmica, quando deixamos de ser reféns e passamos a nos questionar a urgência e presença dessas redes em nossa vida de maneira obrigatória (e urgente).
O estudo revela que 85% dos consumidores latinos acreditam que grandes empresas como Google, Meta, Tiktok ou Amazon, tem muito mais informações sobre as pessoas do que dizem. E, se antes era ~engraçado imaginar que a Alexa estava nos ouvindo 24/7, agora eles buscam respostas, controle e regulamentação.
E, na minha opinião, toda essa revolução vem muito na esteira do medo do Chat GPT e o quanto ele pode controlar nossas vidas e carreiras.
Também na semana passada, comecei a fazer um curso super bacana na PUC sobre UX Writing e o professor - Bruno Rodrigues, craque no assunto - fala justamente dessa inteligência artificial.
“Chat GPT não é oráculo, é liquidificador”.
Ele não cria, mas mistura e organiza, logo, gera, dados através de nossas infos. Achei bacana esse ponto de vista e também um pouco pra desmitificar esse bicho papão.
Por fim, o levantamento do Consumoteca mostra que as pessoas andam cada vez mais deixando de usar app por não confiar em suas políticas e privacidade. Agora qual é a resposta pra esse desencantamento? O surgimento de influenciadores e até mesmo hashtags com essa função de serviço de informação de segurança. E até mesmo campanhas maiores de grandes empresas pra te livrar de problemas, visto a de bancos contra golpes digitais, que andam cada vez mais comuns.
No fim, a gente se cansa, se desencanta, mas ainda busca formas de ressignificar nossa consumo e jeitos de se manter conectado. Sai na frente que se conscientiza e busca informação.
E se no Tiktok as pessoas buscam vídeos urgentes de 10 segundos, fico feliz que aqui na nossa Newsletter vamos totalmente na contramão: textos calmos de no mínimo 6 minutos! Muito obrigada aos que acompanham, compartilham e assinam nossa versão Premium! É só o começo!
Beijos e boa semana!
Thereza!
Esse desencantamento digital me pegou de jeito, faz tempo que eu estava a procura de um ambiente onde consigo exercitar meu cérebro de uma forma mais calma dentro do digital.
oi, The! ótimas reflexões. Nos últimos anos, a mentalidade e os comportamentos mudaram, mudando a paisagem da mídia social. As pessoas estão dando mais prioridade para outras coisas, inclusive para a saúde. Acho que vai gostar deste texto https://luraindica.substack.com/p/a-era-de-ouro-das-redes-sociais-acabou bj