O meu principal hobby da vida adulta atendia pelo nome de ESCREVER UM BLOG. Falar sobre moda, celebs e tudo do adorável mundo pop. No início, escrevia quando ninguém estava lendo, depois o meu quórum começou a crescer para além de duas amigas, três primas e 4 conhecidas. Daí uma outra dúzia me descobriu e assim foi crescendo numa progressão geométrica ascendente que me fez largar o trabalho, largar até o país rs, voltar, e, assim, privatizar meu hobby para ele seguir sendo funcional pra mim e legal pra tanta gente que passou a me acompanhar e a se identificar.
Essa é a história do meu hobby que virou trabalho. Daí, por muito tempo fiquei sem um outro hobby de verdade, algo que me desconectasse dos afazeres de trabalho e domésticos e que me afastasse do celular recreativo.
Há uns 6 anos reencontrei o pintar, algo com o qual sempre me envolvi na adolescência, mas agora, numa versão mais focada, ainda que intuitiva, afinal, autodidata convicta aqui. E pelo fato de ter tremor essencial, esse tipo de tarefa me desconecta do mundo real e ainda me ajuda na coordenação motora.
HOBBY É VIDA
Outro dia ouvi o programa do Michel Alcoforado na CBN (sempre imperdível) e a pauta era justamente o resgate dos hobbies e, como foi muito bem chamado, hobbies de BAIXA MANUTENÇÃO, quando ele simplesmente anda em paralelo na sua vida e sem nenhum tipo de compromisso.
Algo que você gosta de fazer, que talvez você nem faça tão bem assim, mas que certamente te dá prazer e distração. Nada de novo sob o sol, mas certamente em tempos digitais e capitalistas, até o póbi do hobby vira mercadoria.
Diretamente do dicionário: |óbi| substantivo masculino. Atividade favorita que serve de derivativo às ocupações habituais. = PASSATEMPO
Inspirada no programa, gravei um podcast sobre o tema, porque hobby pra mim vai muito além de ocupar o tempo, pois envolve mente, concentração e distração. Ter um hobby é tão saudável quanto fazer exercício ou comer bem, então basicamente ter um passatempo assim é o melhor dos dois mundo, mas estamos perdendo isso. E contra fatos - e estudos! - não há argumentos.
» Existe um estudo americano de 2016 que encontrou níveis significativamente mais baixos de cortisol 45 minutos depois de qualquer trabalho manual. Esse hormônio é liberado quando você está estressado ou em resposta ao perigo. E ainda foi analisado que colorir, rabiscar e desenhar livremente ativam o córtex pré-frontal medial, sede da chamada função executiva, e melhoram a autopercepção de resolução de problemas.
» Um estudo de 2009 mostrou que mais tempo gasto em atividades de lazer estava correlacionado com pressão arterial mais baixa, níveis mais baixos de depressão e estresse e, em geral, melhor funcionamento psicológico e físico. Os hobbies também podem estimular sua criatividade ou permitir que sua mente divague e enxergue os problemas a partir de uma nova perspectiva.
» Outro estudo descobriu que apenas 10 minutos de desenho melhoravam o humor dos participantes. E vale dizer que todos esses estudos focaram em pessoas aleatórias fazendo arte, não em artistas, ou seja, habilidade e talento não são fatores, mas sim encontrar algo com que se envolva de forma prazeirosa e despretensiosa.
DETURPARAM O HOBBY
E dois fatores descaracterizam o hobby: o dinheiro e a pandemia. Hoje em dia, mais do que nunca, existe uma cultura mais orientada à realização e que nos ensina apenas a produzir, produzir dinheiro, produzir conteúdo. Uma coisa leva à outra e, frequentemente, nos leva à frustração. E quando o assunto é pandemia, o hobby de fato salvou muita gente do tédio, mas logo virou projeto, trabalho e mais frustração.
O hobby foi privatizado, comercializado e aquilo que você era minimamente bom, virou um projeto de vida, um plano de negócio. O bolo de rolo, a pulseirinha do show, a música que você toca, o prato que você pinta.
E essa deturpação do hobby também virou META, quando sua corridinha de válvula de escape virou obsessão, superação e performance. Quando sua pintura a óleo virou COSUMO EXCESSIVO e você passou a comprar as tintas mais caras, os pincéis mais modernos (sim, nesse caso estou falando de mim mesma). Daí o ideal quase pueril de pintar o sete, vira um vício em compras ou em ser a next Frida Khalo.
68% da Geração Z, de algum modo, rentanbiliza ou comercializa seu hobby.
ATIVIDADES DESPRETENSIOSAS
E aí que vem a ideia do hobby de baixa manutenção, resgatar esse prazer mais despretensioso, sem expectativa ou ambição. Sobre se conectar com a gente mesmo, viver o momento presente, fazer ou executar, sem pretensão.
Nesse programa eles falam também sobre um livro chamado Flow - a psicologia de alto desempenho da felicidade. Do que se trata? Sobre focar no hobby que você curte, ficar naturalmente entregue, com alta motivação, algo que ninguém te obriga, não há pressão, você continua porque se envolve, e a consequência desse ideal, que era pra ser natural, mas às vezes não é? É que você FAZ MELHOR.
A alta concentração é um capital, uma habilidade que estamos perdendo cada vez mais. Daí quando tem um pedaço da minha vida no qual eu não preciso do celular, que não vou me distrair, que tô conectada naquilo e não me importo com mais nada, aí a gente tá no tal FLOW, que é basicamente: estímulo, dopamina, alto desempenho.
“Flow” ― um momento de completa concentração, em que estamos tão absortos em uma atividade que conseguimos alcançar um estado ideal de felicidade. Neste livro revolucionário, ele explica como esse mecanismo funciona no comportamento humano e o que podemos fazer para aprimorá-lo. Flow é um clássico sobre felicidade e uma das grandes contribuições à psicologia contemporânea.” - Chamada do livro.
A esse ideal de hobbies de baixa manutenção se estende para outros espaços da vida que estão soterrados de metas, obsessões e ambições. Por exemplo, um feriado de baixa manutenção, sem muitos planos ou roteiros. Uma caminhada de baixa manutenção, sem relógio de monitoramento ou rota planejada, relacionamento de baixa manutenção sem muitos títulos ou pressões, ou um amizade de baixa manutenção sem precisar estar enfiada em grupos ou eventos o tempo todo.
COMO ENCONTRAR SEU HOBBY (E MANTER SOB BAIXA MANUTENÇÃO!)
Quando eu postei sobre o assunto no Instagram, ouvi muitos relatos interessantes de pessoas falando que essa pauta é assunto em terapia e de como ter esse tal hobby é altamente recomendado por profissionais de saúde. Mas também li de pessoas que, apesar de tentarem, não conseguem ter um hobby pra chamar de seu.
Então vamos de dicas!
Eu, Thereza, sou totalmente partidária de trabalhos manuais! Adoro mexer com tinta, comprar uma tela, meia dúzia de tintas à óleo e deixar fluir. O máximo que pego é uma referência no Pinterest, mas cada vez mais faço do meu jeito e sem pretensões. Gosto, inclusive, desse tipo de pintura que te permite errar e corrigir, sem nóia e só curtição e a sensação de que você está no comando, ainda que livre.
Atualmente estou ensaiando aquarela e tem sido bem divertido, uma pegada mais pop e acessível (ainda que pra mim mais difícil que à óleo). E meu próximo passo é mexer com ARGILA, mas como demanda aula mesmo, ainda não encaixei na minha agenda, mas há um tempo recebi um presskit de uma marca gringa, um kit de argila com apetrechos da Sculpd e é uma excelente ideia pra iniciantes (só falta o forno rs).
Agora dica AMIGA! Abri uma caixinha de perguntas lá no Instagram pra saber de outros hobbies de baixa manutenção, mas de alta recomendação. Então vai que inspira vocês! Eis os passatempos mais falados!
» Arranjo floral
» Aquarela
» Cerâmica fria
» Doodles
» Crochê/Tricô
» Bordado
» Ponto cruz
» Ritmista de escola de samba (!!!)
» Bordado
» Cinema
» Beach tênis
» Quebra-cabeça
» Palavras cruzadas
» Costura criativa
» Pintura de taças
» Cozinhar
» Bijux
» Lego
» Lettering
» Vela
» Costurar
» Criar lista temática de filme (e assistir tudo depois!)
» Colagens, reutilizar revistas, papéis e cartões
Além desses, os mais falados são sempre os que envolvem esporte, como beach tennis, yoga, luta, pilates, caminhada contemplativa (super mindfulness!), surf. Dos clássicos aos mais inusitados ou vistos de outra perspectiva, sempre o caminho mais simples de aliar hobby à saúde.
E você tem algum hobby? Uma atividade de baixa manutenção que não envolve pressão, rotina ou meta? Algo que te distrais, motiva e funciona como válvula de escape para períodos mais difíceis? Me conta!
Beijos,
Thereza!
Costura! Para criar suas próprias roupinhas!
O meu hobby é ler no Kindle rsrs antes da minha filha nascer era passar uma hora na banheira lendo revista, mas não tenho mais uma hora livre, então leio quando da tempo.