Ok, “nunca mais” é uma expressão muito forte, mas a Thereza de 2024 é muito diferente da de alguns anos atrás. Hoje essa Thereza, mais do que nunca está ligada em vintage, em resale, em pre-loved, em sourcing ou, em belo português, em BRECHÓS!
Fui pesquisar sobre a 1a vez que falei sobre o tema no Fashionismo no aspecto mais comportamental e de consumo e o ano era 2018:
Quando eu falo brechó, o que te passa pela cabeça? Eu consigo vislumbrar 2 extremos, de um lado peças vintages e com um quê sofisticado de outrora (falar outrora é tão de outrora rs adoro), achados Dior e Chanel de décadas passadas, mas por outro lado, muita gente associa brechó com quinquilharia, coisa velha e mofo. Enfim, são 2 universos de um nicho cada vez mais poderosíssimo.” - Você compra em brechó?
Em 6 anos, muita coisa mudou! Antigamente, de fato, o brechó era mais sobre garimpo de super básicos ou um extremo vintage luxuoso. Não sei em outras partes do Brasil, mas aqui no Rio pouco se encontrava brechós e, o máximo que tinha, era aquela loja com apanhado de bolsa de luxo de socialites que queria esvaziar o lotado closet.
Mas aí veio a internet, ok, a internet já existia há um bom tempo, veio a internet como espaço de debate e democratização de moda, um pensar mais consciente e também atraente. O comprar peças usadas, virou cool, virou uma oportunidade, virou um comportamento de consumo.
Na esteira do consumismo desenfreado, esse comprar usado virou uma outra experiência, consumista sim, mas também um momento de ressignificar tal peça e fazer a tal “moda circular", circular de fato. Daí todo mundo ganha, o consumidor ganha, o vendedor ganha e, até de quebra o meio ambiente ganha rs.
Tá tudo muito caro, sejamos espertos
Pausa para uma outra mudança significativa que creio que tem sido motivo pra esse novo olhar pro vintage, especialmente quando o assunto são bolsas ou peças de luxos. As marcas PERDERAM A NOÇÃO DO PREÇO.
A última década inflou o mundo de milionários (ok, e também bilionários), enquanto a desigualdade social segue cada vez maior, os tais super ricos também e o que a moda tem a ver com isso? Desde que nos entendemos por gente, a moda sempre foi atrelada a símbolos de status. Uma bolsa ou cinto Hermés, um acessório Chanel qualquer, esse é o caminho pra “inclusão” e ela tem se tornado cada vez mais… excludente!
Essas mesmas marcas, entendendo esse novo cenário ululante, tem aumentado seus preços de forma indiscriminada. A Chanel quer se equiparar à Hermès que, por sua vez, anda escolhendo pra quem quer vender suas bolsas suficientemente caras. E cheia de potenciais compradores!
Segundo dados de ferramentas do Google, entre os primeiros semestres de 2019 e de 2022, as pesquisas por peças de segunda mão cresceram 572% no Brasil.
Onde entra o “vintage” nessa? Aos fashionistas de plantão, se tornou um caminho para se comprar de forma mais inteligente e, pesquisando bem, com um preço até mais acessível.
E, de quebra, deveria ser a razão principal - mas a gente sabe que não é, e o caminho mais sustentável frente o apocalipse climático que vivemos hoje. É que são produzidos bilhões de peças de roupa e acessórios por ano, daí vai ter um momento que a gente vai precisar parar as máquinas e usar o que tem.
Meu momento novo x vintage
Eu AMO bolsas, sempre amei. Minha mãe fala que desde novinha adorava carregar bolsas infantis por aí lotada de aleatoriedades. Bom, acho que isso é coisa de criança. Daí veio a adolescência e lembro até hoje de uma capa da Vejinha com a Daniella Sarahyba (it girl de uma geração), com sua mochila Louis Vuitton na saudosa matinê do Fashion Mall e foi ali que surgiu meu lado patricinha (postei aqui no Fashionismo sobre o assunto).
Lembro que na mesma época meus pais iam viajar pra Europa e pedi de presente pra eles. Eles foram e compraram uma OUTRA MOCHILA, uma mochila que parecia um besouro (foto da póbi da minha bolsa aqui rs). Passado o trauma e vivendo o auge da patricice classe média, viajei com eles anos depois e eu mesma escolhi minha Louis Vuitton Pochette Stephen Sprouse, uma clutch edição limitada 2001 tão icônica que eu literalmente uso até hoje (usei ontem pra jantar no meu aniver, foto lá de cima).
Passado alguns outros anos, comprei minha primeira it bag com meu suado dinheirinho de arquiteta. Era o boom das Speedy da LV e eu fui pra São Paulo comprar, lembro que custava uns R$2000 na época. Tempos bons rs.
Nesse tempo todo, a Chanel era uma marca que andava em paralelo aos meus desejos mais consumistas. Admirava, sempre estava interligada ao mundo pop e da tv que sempre me influenciou, mas eu era mais uma garota LV por conta do seu marketing mais pop (e por eu ser bem classe média rs). Daí corta pra 2011, eu colhendo bons frutos blogosféricos e fui pra NY atrás do meu vestido de noiva e comemorar meus 29 anos.
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O dólar estava uns R$1,50 e, influenciada pela geração que habitava, pensei: vai ser agora que vou comprar minha primeira Chanel. A Classic Flap era a alltime favorite, mas correndo por fora tinha a bolsa do momento e que era meu xodó por motivos de “The Hills”: a GST - Grand Shopping Tote. Era a it bolsa. Enquanto a clássica custava algo em torno de U$3500, a GST era uns U$2500. Lembro exatamente que a diferença era unsU$1000. Como eu estava em vias de casar, e também mais apegada à bolsa da vez, comprei a GST.
Corta pra hoje, minha GST é murcha e não é um modelo que uso tanto (alça curta e mais pesada) e uma Classic Flap Medium não sai por menos de ONZE MIL DÓLARES.
Em 13 anos, a tal bolsa teve um aumento de mais de DUZENTOS PORCENTOS. E, PIOR: a qualidade CAIU. Leio muito que todas essas it bags tiveram uma queda na qualidade do couro, ferragens. Então, resumo da ópera: se você quiser uma it bolsa, não é herdeira ou bilionária, o garimpo legal é a solução.
Compra inteligente (e consciente)
De volta à minha história, depois da fatídica GST, nos últimos anos foquei mais na YSL (uma marca que amo muito e, das bolsas de marca, tem bons achados), Givenchy, Prada e Miu Miu. Mais recentemente enveredei pra marcas mais contemporâneas como Jacquemus, Coach e Marc Jacobs. Até chegar ao momento BRECHÓ.
Tudo começou quando, em 2022, casualmente caí no Live Shop da Gringa e a Fiorela Mattheis (dona da marca) vendendo uma Celine Phantom de suede marrom. Na época eu estava pensando em comprar uma bolsa grandona pra colocar as tralhas da Maria Eduarda e, pelo fato de nunca ter gostado de nenhuma bolsa de maternidade, me encantei por essa. E o lado bom de garimpar um vintage: era um tecido e uma cor diferentes, logo, o preço estava bem mais em conta e isso garante aquela sensação de urgência e “ETA QUE ACHADO, É MINHA!”.
Corta pra agosto do ano passado, conheci a Fair Closet (que tinha uma pop up store no Village Mall) e me encantei por uma Chanel branca/bege patchwork flap. Ok, me encantei pelo preço e por ser uma bolsa prática, com alça longa e com cara de que cabe muito. E, mais uma vez, por ser uma bolsa diferente das tradicionais e num modelo de temporada, o preço estava ok e me presenteei.
O auge veio semana passada, meu aniversário e um momento muito hedonista da minha parte. Olhando o insta da Seff Vintage, vejo uma adorável Chanel Navy Blue Large flap dos ANOS NOVENTA. Justamente aquele ano que me fez viver o início da minha jornada fashionista terrestre? Essa bolsa tinha que ser minha!
Devaneios Brincadeiras à parte, eu sempre sonhei com uma Classic Flap e, por razões não apenas financeiras rs, mas de BOM SENSO, eu atualmente jamais pagaria SESSENTA MIL numa bolsa, então garimpar é a solução. Ah, e detalhe, enquanto as Chanéis(?) atuais perdem a qualidade em dois tempos, esse modelo vindo do século passado, era do tempo que as ferragens eram banhadas a ouro, ou seja, bons tempos que aparentemente não voltam mais.
Garimpo legal
Quando eu postei sobre o assunto nos Stories e Twitter, muita gente me pediu não apenas dicas, mas também como comprar em brechós de confiança e aqui seguem as minhas, são bem simples.
Primeiro de tudo, é ir pelo básico: joga o nome do brechó no Reclame Aqui, no Google e etc. Entra nos comentários de várias fotos e nas marcações e veja se tem alguém reclamando ou questionando. Olha há quanto tempo existe essa conta ou esse site. Veja se tem pessoas em comum, influenciadores ou celebridades, que seguem a conta ou já recomendaram.
Dito isso, você pode ser mais específica e focar na bolsa, atualmente é muito fácil descobrir se uma bolsa é fake, eu mesma entrei num site gringo e chequei todos os detalhes mais específicos de uma Chanel fake x original e tem como você ver bem. A Chanel tem vários detalhes que provam a autenticidade, sem contar o fato do vendedor poder te garantir isso também.
E também desconfie do preço, né. Por exemplo, uma Chanel por R$500 reais é totalmente fora da média, quando a esmola é demais... Você pode inclusive olhar o preço do modelo 0k e fazer um parâmetro com outros sites e saber mais ou menos quanto que se cobra por modelos e marcas. Lembrando que, mesmo em peças originais, tem muito resale famoso aí cobrando muito mais caro que a média pra ter um lucro maior, então um double check é bem-vindo.
E, em último caso, você comprou a bolsa, chegou, você desconfiou, ou não gostou da qualidade mesmo, dá pra devolver ou trocar (cheque antes a política de troca de cada site).
Estamos vivendo momentos economicamente difíceis no mundo todo, mas, se esse universo de resale for a sua, vale pesquisar mais, se familiarizar com o assunto, pesquisar, seguir os instas das marca, porque aí de repente você bate o olho e faz sua aquisição no momento certo e na hora certa (tem uns modelos mais raros que ficam souldout em questão de minutos).
E sabe o que eu achei mais legal da minha Chanelzinha dos anos 90? É que ela chegou lindinha, perfeita pra mim e o couro tinha aquele cheirinho de história, sabe? Daí eu fiquei pensando quem foi a dona anterior, por onde essa bolsa viajou… então elucubrei e acordei depois rs.
Mas na real, além de agora ter outros olhos pra peças usadas, também ando com mais vontade de desapegar as minhas e fazer minhas bolsas circularem.
Compra, vende, compra, vende!
Como entrar nesse mundinho vintage? É entender a bolsa como um achado estratégico. Não pense que vai achar a bolsa do momento, mas que vai bater o olho num modelo mais aleatório e se encantar. Quer ter uma marca x? Pense em materiais diferentes, cores não-tradicionais, modelos fora do padrão, geralmente o preço dessas variações são mais ok que um clássico dos clássico. E, posso falar, acho que se for pra comprar uma bolsa vintage, quanto mais diferenciada melhor, pois parece que vem uma dose extra de charme e exclusividade rs.
E nunca se esqueça de olhar a descrição, os sites sérios costumam detalhar todas as avarias das bolsas e, convenhamos, bolsa usada sempre vai ter história e você vai avaliar se vale a pena mesmo assim. Por exemplo, a Chanel bege que comprei tinha aviso de uma marca de caneta no interior e por mim tudo bem. Outro fator que ajuda, é ver o ZOOM da foto, lógico que sempre rola uma edição de luz, um enchimento da bolsa, mas, mesmo assim, um bom zoom ajuda a entender melhor o todo.
Pra finalizar esse post enooorme e empolgado, algumas lojas que vendem bolsas usadas pra ficar de olho (lembro sempre se atentar às dicas acima).
GRINGA: Foi onde comprei minha Celine, o atendimento foi eficiente e eles tem uma excelente curadoria. Tem um pouco mais de 1 ano que foram comprados pelo Enjoei, então cresceram bastante, estão com mais variedade e marketing forte.
FAIR CLOSET: Foi onde compre a Chanel bege, o atendimento foi eficiente também. Tem uma curadoria bem boa de peças, não tem muita variedade, mas é ótimo para encontrar achados inesperados.
SEFF VINTAGE: Foi onde comprei a Chanel navy, atendimento ótimo também. Gosto muito da curadoria deles, peças mais descolada e vintage nineties. Muitos acessórios para além de bolsas. Por ser uma marca independente (e não de um “conglomerado”), a margem dele é um pouco menor e fica mais atraente. Vale entrar no grupo do Whats deles.
BRECHÓ FIND: Nunca comprei com eles, mas conheço quem comprou e recomenda. Também é como a Seff, curadoria cool e independente. Ano passado quase comprei uma Fendi rosa bem Carrie com eles, ótimo preço, mas pisquei e perdi. Também tem grupo no Whats com novidades em 1a mão.
ETIQUETA ÚNICA: Nunca comprei, mas sei de gente que compra sempre. Como a Gringa, é uma gigante da moda circular, vale ficar de olho nas promos do site, às vezes 5% ou 10% é uma boa diferença.
PRETTY NEW: Nunca comprei, mas sei de gente série e cool que compra e recomenda. Geralmente esses sites mais famosos tem desapego de celebs e influs e o deles tem uma das curadorias mais legais e de gente interessante.
Lembram da saudosa tag QUER PAGAR COMO do Fashionismo quando a gente comparava preços de bolsas numa época muito mais auspiciosa? Acho que agora entramos definitivamente na era QUER COMPRAR COMO e um mundo de possibilidades para além do novo, que tal?!
Beijos e boa semana!